Em uma época tão quente assim, não era de se espantar que enlouquecesse. Não era de se espantar que fosse esperar para enlouquecer. Não era novidade. O mundo dançava ao contrário, e molhava a tela. A tinta vermelha escorria sangue, manchando o céu azul, manchando o mar azul. Manchando a sombra da árvore, e manchando tudo mais a tinta vermelha escorria, e manchava e sujava e escondia aquele mundo de vermelho. Em um tempo tão quente, não era estranho que fossem como era. Não era de se estranhar que a loucura interior nos fizesse dançar, que nos consumisse por inteiro, que nos apagasse, ponto a ponto, como a tinta que ainda borra o quadro na sala.
Ainda escorria sangue, e por aqui ainda pingava do teto. Ainda escorria, e manchava e sujava. Ainda era sujo por aqui, naquela tela fresca de calor. Mas já não tinha tinta fresca por aqui.