domingo, 20 de julho de 2008

Análise de Longe

"É triste, eu sei que é. Por trás da máscara da amizade há um coração partido sedento por poder. O medo de perder as pessoas em volta é torturante, agonizante. A busca desesperada por alguém, qualquer, chega a ser falsa. Sua crueldade é falsa. Não sabe ser má. É superficial, sem conteúdo. Sua beleza é manipulada para gostarem, para desejarem. Não é natural, nada é natural. Fala como se estivesse em uma peça, com falas marcadas e gestos coordenados. Seus abraços não são quentes, suas falas não são reais. Esconde o desejo sobre outros na falsa amizade, mas não se sente bem sem o desejo dos outros sobre si. É sexy, mas não de uma forma sensual. De uma forma erótica. Espera o desejo somente para seu próprio ego, sem oferecer nada em troca. Morre. A cada dia em vão uma parte sua cai, quebra. No fundo, é frágil. Pena não ter ajuda, mas a falsidade invade, corrompe e afasta. Todos."

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Sexo

O menino falava como um grilo, totalmente desprezível. Ninguém quer um desses para sua filha. No meu caso, para meu filho. Quando se abraçaram, quase vomitei. Graças à Deus, não se beijaram. É contra a espécie, contra a natureza, ou então Deus não teria feito o homem e a mulher.

Meu filho, Murilo, disse que iriam viajar juntos. Juntos. É, fez eco.

J-U-N-T-O-S.

Quase morri, e se o pai dele estivesse vivo, morria de novo. Como assim, juntos?

Quer dizer, vão dormir abraçados? Como um casal de namorados? Eles são um casal? E então meu mundo caiu e não consegui me segurar.

- Vocês vão fazer sexo?

Eles simplesmente não podiam fazer sexo. Meu filho não pode fazer sexo com outro homem. Eles são homens! Meu terço arrepiou todo no meu pulso. Abaxei a cabeça e esperei a resposta. Eu sabia a resposta, eles sabiam a resposta, meu terço sabia a resposta. Mas inves de ele dizer que sim, apenas disse:

- Que sexo, mãe?

Fiquei perdida. Será que ele não sabia o que era? Hoje em dia, eles já nascem sabendo, não é, não? Do outro lado da sala, Licinha, minha filha mais velha, soltou um risinho.

- Mãe, é claro que eles vão fazer sexo.

Então o outro corou. Veja só! Eu, uma mulher de respeito, antenada, moderna, mãe de dois filhos, super liberal, vendo um qualquer corar porque estávamos falando sobre sexo. Sobre o dele.

- Mãe - disse Murilo -, nós vamos fazer sexo, sim.

Então tudo começou a não fazer sentido. Mais ainda. Como aquele homem, ali na minha frente, bonito, novo, bem cuidado, que coube nos meus braços, estava fazendo sexo com outro homem? Homem?!

Eles sairam da sala, e ficamos eu e Licinha por mais muito tempo. Ela vendo TV e eu perdida na minha cabeça. Meu filho. Meu filho...

Eles sairam, Licinha saiu, Murilo voltou e, por fim, Licinha voltou. Eu ainda estava ali, pensando no meu filho. Ela chegou perto, me abraçou e disse:

- Ele já é um homem, mamãe.

Com toda a certeza, eu respondi:

- Eu sei que é. E como é.

domingo, 13 de julho de 2008

História de Amor

O relógio apitou, eram onze da noite. Cíntia estava sentada na cama, ainda com a roupa do trabalho. Do outro lado da rua, de um bar vagabundo, vinha uma música velha, baixa. Se perguntava se aquela vida realmente valia a pena. Trabalhava o dia todo, a semana toda, não tinha amigos, não tinha vida. Não tinha nada.

Nada.

Vivia em uma casa, um barraco, uma cabana. Escondia-se. Não dormia. À noite, só pensava. Era a hora que tinha para ela. O quarto, que faziam de sala e cozinha, era uma bagunça, uma sujeira. Viera de uma família rica, uma casa grande, um quintal limpo. E ali nem espaço para ela tinha.
Em cima dos móveis, a cocaína preparada descansava. Alguém dormia no chão perto do banheiro. Ao seu lado, Alexia roncava e o hálito se misturava ao cheiro da rua e subia até os limites do quarto. Fedia. Tudo, aquilo. Todos eles fediam.

Cíntia trocou uma vida burguesa por um amor. Um conto de fadas. No começo, tentou um ou outro menino. Não deu. No começo, os pais desconfiavam, escondiam. Não era, gostava de mulheres. Era homossexual. Gay, lésbica, sapatão, como quisessem chamar. Foi escândalo, foi expulsa.
Certamente a família ainda falava, mas agora eram elas. Sem eles. E a vida ao lado de Alexia era ótima. Era homem que ela foi achar em uma mulher.

Era.

O conto de fadas acabou e Alexia se mostrou ser nada daquilo que mostrava ser. Era grossa, rude. Não queria compromisso, não queria crescer. Era homem. Homem demais para Cíntia. E aquela história chegara ao fim há muito. Estava na hora de algo ser feito.

Arrumando as suas coisas, Cíntia viu o cigarro, ainda aceso, descansando na pedra. Olhou. Nunca experimentou, apesar das insistências. Chegou mais perto. Parecia um bicho. A fumaça saía lenta e quieta pela ponta. Tocou. É, queimava mesmo. Chegou mais perto. Olhou. Fumou. Tossiu e largou onde estava antes. Era horrível. Fedia. Olhou para onde estava o amigo de Alexia e para o banheiro. Podia escovar os dentes antes de sair. Olhou de volta para o quarto. Quantas vezes aquilo aconteceu? Uma? Muitas? Nenhuma? Nunca teve coragem. Nunca podia sair. Nunca?
Entrou no banheiro, pegou a escova, a pasta e o sabonete. Ninguém tomava banho há muito tempo por ali, não iam sentir falta.

A caminho de casa, a lua iluminava seu caminho. E assim, chorou.
Chorou por Alexia. Talvez, nunca mais amasse outra mulher. Talvez tivesse sido uma aventura, uma novidade. Uma paixão.
Mas foram a aventura, a novidade e a paixão que mudaram a sua vida. Sim, se perderiam no mundo. Mas agora ela chegava aos portões, se esquecera de como eram grandes, e ali nada daquilo iria existir. Sua vida foi mudada, sim, para sempre. Mas ali Alexia já não existia mais. Para nunca mais.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O rato, o gato e o cachorro.

O queijo tava lá. Em cima da mesa. Grande, amarelo, bem amarelo. Tava lá. Parecia chamá-lo. Não tinha olhos, mas chamava. Olhou para um lado, para outro, mas não dava mesmo, o queijo estava lá. Em cima da mesa. Lá em cima. As cadeiras, todas para dentro. Nenhum pano, nenhuma vassoura. Só o queijo.
Do outro lado da cozinha vinha ele, grande e branco, bem branco com listras negras. Com o pêlo cuidadosamente penteado para a direita, a coleira verde de brilhantes e aquela cara de esnobe que só os gatos brancos têm. Vinha ele em direção a cozinha. Andava como anda uma majestade. Uma chata e fresca majestade. Ele vai ver. Vai ver o queijo e vai entender. Pois é, viu o queijo e entendeu. Mas antes que pudesse soltar um miado, apareceu o mais temido, mais abençoado, o mais bonito. Apareceu o Cachorro.
E não era um cachorro qualquer. Ele era grande, preto e ainda mais majestoso que o gato. E naquela briga de gato e cachorro, o pobre do rato não ia ficar no meio para ver quem é que ia ganhar. Saltou de onde estava e deixou que eles se atacassem, e que morressem. Não tinha pedido ajuda de ninguém. O gato foi se meter porque era fofoqueiro e o cachorro porque era encrenqueiro. Se a lei do mais esperto realmente reina, era a hora de ter certeza.

Chegando na entrada do seu buraco na parede, o rato lembrou o motivo de ter ido lá. Mas a esta altura do campeonato, não queria nem mais saber do queijo.


[Peço perdão pelos erros de português. É, realmente eu não sei escrever direito.]