quinta-feira, 30 de abril de 2009

Você já brincou de mês?

Daqui há exatamente 24 horas, Abril se despede de nós.

Além das nuvens do fim de Abril, tem sempre um pouco de sol, que vagamente dá para ver, começando a nos mostrar as manhãs de Maio. Amanhã eu vou esquentar no último dia de sol nesse mês ridículo que foi Abril. Vou assistir as últimas árvores que ainda dormem, esperando por Maio para salvá-las da loucura. Amanhã vai ser possível sentir a névoa pesada do quarto mês deixar nossa noite e ir embora.

Vai começar Maio, e eu vou pensar no que eu vou fazer no meu aniversário, no presente que eu vou comprar para a minha mãe e em quantas promoções eu vou conseguir participar em 31 dias. Maio não é que nem Abril, nunca é. Maio é expressivo, é alegre, e a minha primeira amiga, amiga de verdade, fazia aniversário dia 05 de Maio. Eu sei, não tem nada a ver, mas eu lembro a data do aniversário dela quando ela fazia seis anos, e eu acho isso incrível.

Confesso que Maio me assusta um pouco. É o mês anterior a Junho, do meu aniversário, então é sempre o meu último antes de ganhar idade. Por exemplo, agora vai ser o meu último com 15 anos. Isso me assusta profundamente. Crescer, deixar minha adolescência, ficar responsável são coisas que sempre vem com o aniversário. Fora a festa e os votos, não gosto de aniversários. Não os meus.

Mas ainda assim Maio vale a pena. Talvez não por si, mas por ser sucessor de um mês depressivo, que já trás um nome cabisbaixo. Abril é um mês chato e sem graça. Eu não gostaria se tivesse nascido em Abril. Se alguém que nasceu em Abril ler isto, me desculpe, mas é verdade. De tão leve, o mês consegue ser pesado. De tão limpo, chega a ser sujo. De tão insosso, chega a ser irritante. Então vem Maio, com sua aparência de renovação. Qualquer um que viesse depois pareceria bonito, é lógico.

Maio é outono quase inverno, mas por aqui a gente não tem inverno, e o outono é indefinível. Então Maio fica como um mês-surpresa. Não dá pra saber qual o tempo de amanhã. Abril também é assim, mas é diferente. Em Abril, é sempre com cara de chuva. Em Maio, é sempre ensolarado.

sábado, 25 de abril de 2009

Pretérito, Futuro do Presente

So you think you can love me and leave me to die? Oh, baby - can't do this to me, baby.

Apesar de ser verdade, eu não poderia, sem dor, o admitir. Eu ainda via nas águas puras, nas palavras duras, a verdade que tão logo foi deixada para trás. Eu sei que em breve eu já não poderia mais transparecer, e este tempo começava a chegar. Tampouco eu sei que a minha memória é nada confiável, e tenho medo, profundos medos, das peças que ela pode me pregar. Tenho medo das pequenas partes, dos dias sem nuvens, pois me agrada a tormenta dos céus naquela vasta briga de formas. Pois me agrada, como, olhar o céu, bonito ou feio. Encontro a mim por ali, pois sei que nada me escapa ao céu, pois sei que ao todo tenho, e o tenho como para mim, sem divisões. Tudo já parece ser como é, e eu já sei do erro, mas não me assusta mais tanto. Mas já não importa tanto, pois eu tenho o céu. É um céu feio, sujo e com nuvens. Pesadas e grossas, nuvens escuras de chuva.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Des-

Fechava os olhos de leve, enquanto a dor voltava. Seu sangue congelava, parava. O mundo girava cada vez mais forte. Buscava apoio, alguém que pudesse lhe salvar.

De longe, assistia sua vida. Carregava nas costas a dor abatida. Vivia para o mundo, e de leve morria. Sua vida saía pela sua boca ao sussurrar. Levava consigo o gosto amargo coisas. Deitava na cova, de leve, sem notar.




Idéia original de Marina Camargo e Rafaela Ramos.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Amor.

É a verdade incontestável perante os deuses, é a divina dor. Da carne faz-se o pecado, sob o puro cheiro da flor, tão logo desejado. Une-se no divino o certo e o verdadeiro, o oculto e o misterioso. É entregue o cálice dos corpos, o beijo no toque, as inconfundíveis notas do amor.

Era verdade que amava. Por mais profundo ou surreal que aquilo parecesse, amava além dos limites terrenos. Mas não amava de forma simples e comum. Amava intensamente, desesperadamente. Era verdadeiro, pulsante, real. Era palpável, pois cada vez que sentia o toque das mãos, sentia o calor queimar por todo o corpo. Era ardente como brasa, e lhe ardia todo o corpo, e lhe fazia doer as vísceras do abdômen, e a fazia se deitar sem forças para levantar. Amava, simplesmente, até o mais profundo ponto do corpo, além da alma ou da vida. Via o amor em dimensões paralelas, e já não via rosto bonito ou feio, passou a olhar por dentro. No brilho do sol só havia luz, e nas palavras modestas, a doçura de uma vida. Encontrara em si o elo perdido em seus mundos tão vagos. Viera ao mundo embrulhada em amor, e agora nunca mais deixaria de ser.

sábado, 11 de abril de 2009

Hoje

Eu quero falar sobre a vida, mas não sei se eu já estou forte para isto. Queria escrever algo realmente bonito, porque hoje eu acordei assim, com vontade de escrever. É algo novo. Desde uns dias que eu passo longe de qualquer coisa que desperte isto em mim. Mas hoje, não. Hoje o dia estava brilhando, o sol estava forte, a cidade estava cheia. Hoje eu saí de casa sorrindo, e faz uns dias que eu não faço isto. Mas não hoje.

Hoje, eu sei que a vida ensina, e eu aprendi com ela. Aprendi o valor das pessoas, o peso da dor, o calor de um abraço. Aprendi que, sim, a vida é curta, e, quem diria, amanhã realmente pode ser tarde. Mas não hoje. Hoje eu acordei feliz, porque hoje eu sei que quem não está aqui, está melhor do que eu, e hoje eu percebi que o "para sempre" não é para sempre. "Para sempre" vai até aonde o sempre acabar. Então, te pergunto, aonde termina o teu sempre?

Estou falando de um "para sempre" meu particular, que me disseram uma vez, e que hoje é de extrema importância para mim. Um amigo muito importante me falou isto, e eu não sei se ele sabe o quanto é importante, ele e o nosso "pra sempre". Mas, hoje, eu sei que este "para sempre" é para sempre, porque nós o fizemos assim. Não tem limites nem fim.

Mas hoje o dia acordou bonito, e eu acabei falando de "para sempre". Na verdade, raras vezes eu pensei em algo diferente esta semana. Mas não hoje. Ainda que eu pense no mesmo assunto, e na mesma pessoa, hoje eu o faço sem lágrimas, e isto é novo, pois desde alguns dias eu não o faço. Hoje, eu não sei se estou forte, mas sei que a fraqueza não ajuda ninguém, e que só forte eu vou poder ajudá-lo. Hoje, o dia amanheceu forte, claro, brilhante, e justo hoje eu acordei assim. Hoje o dia é diferente, porque hoje eu acredito no nosso "para sempre", e hoje, o sol brilha diferente. E isto é algo novo para mim.

Se Eu Morrer Antes de Você

Se eu morrer antes de você, faça-me um favor: Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria.

Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo.

Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase:

"Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!"

Aí, então, derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu.

Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente,vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele.

Você acredita nessas coisas?

Então ore para que nós vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Mas, se eu morrer antes de você, acho que não vou estranhar o céu.

Ser seu amigo já é um pedaço dele.
Chico Xavier





Para os meus amigos, enquanto é cedo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Imortalidade

A morte não é o fim.

Criado para a vida, o espírito transfere-se constantemente de um estado vibratório para outro, sem perder a imortalidade. Repare nos exemplos da natureza.

A destruição da semente em contato com o solo não passa de transformação da vida gerando mais vida.

O Sol, que se oculta com a chegada da noite, ressurge a cada amanhecer, sem jamais deixar de brilhar.

Se te ressentes da ausência do afeto que a desencarnação transferiu para a vida no além, não te revoltes nem te desesperes.

Corações amáveis o acompanham, tanto quanto a ti, afim de que a vida de cada um siga em paz na direção do progresso.

Confia no Pai e prossegue vivendo, fazendo o melhor ao teu alcance. A felicidade de quem segue no além, muitas vezes, depende do equilíbrio de quem permanece na Terra. Entrega-te ao trabalho construtivo, orando e servindo e contarás com os eflúvios da luz e paz que convertem do alto, favorecendo-te na jornada redentora, até que te reencontres com os corações queridos, em comunhão de amor nos domínios da eternidade.

Irmão José - Do livro Vigiai e Orai




Meu amigo, vai com Deus. Você já faz falta, mas eu sei que a gente ainda vai se ver de novo, muitas outras vezes. Eu te amo, amigo. Pra sempre.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Era um final pronto

Eu sentei e fiz meu conto de fadas. A postura correta, a coluna ereta. As mãos correm hábeis pelo teclado, e eu já não sei mais escrever no papel.

A minha letra corriqueira estragou minha poesia. O meu papel amassou abaixo da carteira. As cortinas corriam lado a lado, fazendo barulho, e eu enlouquecia. O papel amassava, eu enlouquecia. A lua murmurava, eu enlouquecia. O barulho, barulho, cantava tanto lá fora, eu não sei porque eu não posso acompanhar. A minha meta já está pronta, eu só quero alguém para me libertar. A minha história já está pronta, e eu enlouquecia. É a fase, eu sei, porque agora eu fico assim. Mas alguém não acredita em mim. O canto dos pássaros, o trilho da cortina. O trilho da cortina, lado a lado. Corria, lado a lado. Eu gritava, ninguém ouvia. Eu gritava, enlouquecia. A coluna certa, a postura ereta. Corria, lado a lado. Eu precisava, enlouquecia. A poesia saía torta, eu já não sei mais aonde procurar. Não, eu não enlouquecia, pois agora já passou. Minhas mãos correm fortes pelo papel, aonde eu ainda procuro paz. A cortina voltou a correr. A cortina voltou a correr. Lado a lado, eu enlouquecia.

Lado a lado, eu enlouquecia.

Íssima

Pergunto-me ainda mais por que a distância, o orgulho e as barreiras. Por que, sinceramente, elas não levam a lugar nenhum.

Acima dos carros e dos barulhos da cidade, a ópera cantava a canção à meia-noite. Era só bonita, mas não bastava para ouvir. Fazia sons demais enquanto eu só queria dormir. Eu não me importava com o tipo de vida que me faziam levar. Eu sei que do lado de fora alguém me espera, mas sem o buquê. Aonde foi que eu errei a esquina, aonde foi que eu trucidei o romantismo. E aonde foi que eu disse que amar é meia dúzia de palavras combinadas e plagiadas, ao som da banda avesso da ópera?

Eles tocam tão sereno agora que é impossível não se concentrar. A minha vida inteira está resumida nas notas de alguém que eu não faço ideia do sobrenome. Realmente me pergunto até aonde essa vida miserável vai nos levar. Será que vivemos só de mentiras? Será que vamos realmente acordar para isto um dia? Ou será que o meu erro foi gigantesco de novo? Ou será que eu sempre erro e não foi diferente? Eu vi meus cinco minutos de espera virarem quarenta. E me pergunto principalmente aonde foi exatamente que eu deixei de ser subjetiva para me entregar às palavras diretas. Se isto foi um ato consentido ou só acidente do destino.

A ópera não vai parar tão cedo, com suas bolas e seus tacos rachando sobre a mesa. Eu sei que tenho que abstrair, mas simplesmente não dá quando tudo parece tão longe de mim.

A ópera nunca vai parar de tocar, enquanto a minha verdade, dita tão crua e não correspondida, não for tão verdadeira quanto soou.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Não É Nada Não

Miséria, lástima, bagatela, avareza.
Miserável, como assim.

A rua tinha três postes, dos quais dois estavam queimados. Clichê, é óbvio, mas clichê ainda era original. Não havia ninguém, e talvez seja por isto que você não goste. Particularmente, eu não gostaria de um texto sem personagens, porque eu não gosto de textos que me fazem pensar demais. Isto me faz infeliz. E é exatamente por isto que nesta rua não havia ninguém. As cores frias davam o tom certo de melancolia necessária. Todas as casas mantinham as portas fechadas, e os poucos que abriam as janelas, escondiam o interior com cortinas, iluminadas pela luz da sala. Nas varandas quentes, já não existia mais calor. O mundo deixara aquele lugar para seguir em frente. Não era tão clichê como aparenta, pois não havia cemitérios, nem igrejas ou gente morta. Era normal. Até o limite.

Era um lugar infeliz. Por mais que as pessoas tentassem e sorrissem algumas vezes, era um lugar infeliz. Mas não era infeliz porque era escuro e mórbido. Era escuro e mórbido porque era infeliz. Não havia luz corrente que sobrevivesse, amor que transparecesse, paixão que durasse.

Já não se via paixão ali há muito. Atração, talvez. Mas paixão, não mais.

E a vida se acostumava com a imagem sombria. Como um motorista se acostuma com o semáforo, como você se acostumou com a pobreza ao lado. Incomoda, é claro. Mas não o suficiente para uma atitude direta. As noites quentes nem precisam ser tão quentes assim. Os abraços fortes já não precisam durar tanto. As palavras, que antes eram grandes, já podem ser reduzidas, escondidas, retiradas. A vida vai perdendo espaço, vai morrendo. As cores se desbotam mas ninguém quer repintar as paredes. Aos poucos, tudo que antes era vivo já não o é mais. E assim, a rua morreu, e se fechou do mundo.

Ainda havia vento quando a luz do último poste queimou.