Miséria, lástima, bagatela, avareza.
Miserável, como assim.
A rua tinha três postes, dos quais dois estavam queimados. Clichê, é óbvio, mas clichê ainda era original. Não havia ninguém, e talvez seja por isto que você não goste. Particularmente, eu não gostaria de um texto sem personagens, porque eu não gosto de textos que me fazem pensar demais. Isto me faz infeliz. E é exatamente por isto que nesta rua não havia ninguém. As cores frias davam o tom certo de melancolia necessária. Todas as casas mantinham as portas fechadas, e os poucos que abriam as janelas, escondiam o interior com cortinas, iluminadas pela luz da sala. Nas varandas quentes, já não existia mais calor. O mundo deixara aquele lugar para seguir em frente. Não era tão clichê como aparenta, pois não havia cemitérios, nem igrejas ou gente morta. Era normal. Até o limite.
Miserável, como assim.
A rua tinha três postes, dos quais dois estavam queimados. Clichê, é óbvio, mas clichê ainda era original. Não havia ninguém, e talvez seja por isto que você não goste. Particularmente, eu não gostaria de um texto sem personagens, porque eu não gosto de textos que me fazem pensar demais. Isto me faz infeliz. E é exatamente por isto que nesta rua não havia ninguém. As cores frias davam o tom certo de melancolia necessária. Todas as casas mantinham as portas fechadas, e os poucos que abriam as janelas, escondiam o interior com cortinas, iluminadas pela luz da sala. Nas varandas quentes, já não existia mais calor. O mundo deixara aquele lugar para seguir em frente. Não era tão clichê como aparenta, pois não havia cemitérios, nem igrejas ou gente morta. Era normal. Até o limite.
Era um lugar infeliz. Por mais que as pessoas tentassem e sorrissem algumas vezes, era um lugar infeliz. Mas não era infeliz porque era escuro e mórbido. Era escuro e mórbido porque era infeliz. Não havia luz corrente que sobrevivesse, amor que transparecesse, paixão que durasse.
Já não se via paixão ali há muito. Atração, talvez. Mas paixão, não mais.
E a vida se acostumava com a imagem sombria. Como um motorista se acostuma com o semáforo, como você se acostumou com a pobreza ao lado. Incomoda, é claro. Mas não o suficiente para uma atitude direta. As noites quentes nem precisam ser tão quentes assim. Os abraços fortes já não precisam durar tanto. As palavras, que antes eram grandes, já podem ser reduzidas, escondidas, retiradas. A vida vai perdendo espaço, vai morrendo. As cores se desbotam mas ninguém quer repintar as paredes. Aos poucos, tudo que antes era vivo já não o é mais. E assim, a rua morreu, e se fechou do mundo.
Ainda havia vento quando a luz do último poste queimou.
Já não se via paixão ali há muito. Atração, talvez. Mas paixão, não mais.
E a vida se acostumava com a imagem sombria. Como um motorista se acostuma com o semáforo, como você se acostumou com a pobreza ao lado. Incomoda, é claro. Mas não o suficiente para uma atitude direta. As noites quentes nem precisam ser tão quentes assim. Os abraços fortes já não precisam durar tanto. As palavras, que antes eram grandes, já podem ser reduzidas, escondidas, retiradas. A vida vai perdendo espaço, vai morrendo. As cores se desbotam mas ninguém quer repintar as paredes. Aos poucos, tudo que antes era vivo já não o é mais. E assim, a rua morreu, e se fechou do mundo.
Ainda havia vento quando a luz do último poste queimou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Diga aí (: