sábado, 30 de maio de 2009

Remendado

Deveria me castigar, e ninguém irá saber. Chamar-te para sair, eu te devo uma. Nossa história de amor inacabada, maltratada. Tenho certeza que ainda guarda ela, nos confins dos seus amores. Seríamos mais que isto, seremos ainda maiores. Nunca saberás o quanto te quero, nos confins dos meus amores. Ainda teremos uma história. Ainda te devo uma. Meu amor inocente, sem a malícia atraente, ainda sinto teu abraço em mim. Pois que ainda espero aquela festa, que ficou de me levar.
Teríamos sido grandes. Teríamos sido amantes, o que o tempo ainda não apagou de mim






Escrito em 18/01/2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Bobeira

Naquela manhã, o sol se escondeu. As nuvens pesadas me lembraram de todas aquelas coisas conversadas na noite anterior. Ainda tinha as marcas na cama. Ainda tinha minhas marcas nos pulsos. O vento me abraçava, e corria embora. Ia embora. Assim como alguém que deixa tudo, o vento ia embora. Ia embora para os braços de mais alguém. Desta vez já não existia contraste pela janela, e o azul se transformava em escuridão. Pesava o ar por todo o ambiente, era difícil respirar. Ainda tinha marcas em todo lugar. Ainda tinha vida, a vida que fugiu e foi embora. Ainda tinha alguém no meio do quarto. Ainda tinha a vida, por todos os cantos do quarto. Ainda tinha alguém.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Prazer

- O cheiro era ruim. Era cheiro de xixi, de gente, de fedor. Não aguentavam muito tempo por ali, e dava preguiça pensar. Naquilo tudo que eu li, eu não achei nada demais. Naquilo tudo que eu vi, nada me tocou. E eu não me importo de continuar o jantar.

- O carro fez barulho, reclamaram do buraco. Um palavrão compreensível. Pois que a música é boa, então nada se ouve. Nada se ouve, nada se vê. O mundo lá fora gira, mas aqui, conservamos nosso ar. Tudo fechado, isolado. Pois que nada se ouve, e a música é boa. Pois que a música é boa, conservamos nosso ar.

- Cada vez mais alto, lá dentro parece de dia. Não dá pra ver o dia passar. Cada vez mais alto, cada vez mais caro. Tanta luz que cega, e é tanta inveja que cega. Tanta gente disfarçada de gente, tanta solidão. É um vazio imenso, é tudo muito gelado. Hipocrisia, mentira, gente assim. Licensa, mas eu evito.

- Prazer da classe média. Prazer; mas ora, que prazer? Prazer de comprar, como assim? Como assim, que prazer? Prazer, ora. Prazer.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Barroco II

Aqui, bem aqui, eu não me sinto bem. Talvez isso seja uma característica minha, mas hoje eu não me sinto bem aqui. Aquele rosto zangado, aquela expressão indiferente, e eu nem sei ao certo o que foi que eu fiz. Eu não sei se foi algo que eu fiz, que eu falei, ou talvez que eu não tenha falado. Eu não menti, não fui falsa, não aceitei a verdade e lutei contra ela. E agora o que eu recebo é um rosto contrariado, como se eu tivesse feito algo de errado. E eu também não vejo problema algum em pedir cinco minutos. Cinco minutos não são nada. Cinco minutos fazem a diferença. Se cinco minutos é o que eu te peço, cinco minutos não mudam nada. Talvez não existissem cinco minutos para me darem. Talvez cinco minutos estivessem além de mim. Talvez. Talvez.

Talvez o que eu vejo hoje, o que eu tenho visto ou o que eu vi, não passam de um sonho, uma brincadeira sem graça, sem graça para mim. Ou talvez não. Talvez não seja nada além de um encontro de dois inconsequentes que ainda se procuram incessantemente. Talvez. Talvez isso tudo ainda seja mais profundo do que aparenta ser. Talvez ainda exista o tudo e o nada, e talvez eu ainda esteja no meio por ali.

Talvez é bem barroco. Barroco, profundo, sincero.
Barroco, exatamente assim.

sábado, 9 de maio de 2009

Confiança

Sem conversas, elas são desnecessárias esta noite. Abraça-me, me puxa, dança comigo. Não precisa me convencer que eu já estou convencida. Não precisa pensar em errar, pois eu já errei por nós dois. E tampouco precisa negar, é comum acontecer isto comigo. Eu sei que você gostou de mim. E eu sei que sou irresponsável e imatura, mas eu não me importo. Eu não gosto da culpa que pessoas responsáveis provam. Eu não gosto do amargo da vida que pessoas adultas sentem. Eu gosto da brincadeira sem graça, do riso idiota. Eu gosto de machucar, de mentir, enganar. Eu gosto de fingir dançar com você. E fingir eu faço muito bem. Eu gostei de você, e é por isso que eu te faço acreditar que você tem as rédeas do jogo, quando foi eu quem te deu todas as cartas na mão. Eu controlo a situação, controlo o ambiente. Porque eu gosto do controle, e gosto de fingir dançar com você.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Ódio.

Esse meu ódio é o veneno que eu tomo querendo que o outro morra.

Eu explodia por dentro, perdia o controle. Perdia o meu controle e já não podia mais responder por mim. O vinho que me esquentava era o mesmo que me encorajava. Só aquela presença asquerosa já me irritava.

Ali era o meu quintal, o meu lugar. Que fiquem estabelecidos os limites, é melhor assim. Eu tenho um exército forte e uma mente insana, completamente insana. Não tenho mais sangue escorrendo pelo meu rosto, tampouco pelas minhas mãos, mas também tenho minhas armas. Não faço mídia da minha carne, nem da dor imposta a ela. Eu fico calada, porque assim eu ganho mais. Se for a guerra o procurado, então que guerreado seja. Meus medos são ilegíveis, eles ficam todos em casa. Eu me fecho, ergo a minha muralha, e então eu estou pronta para qualquer coisa.

A bebida barata subia a cabeça, fazia efeito além do esperado, deixando o ambiente turvo, confuso. O meu objetivo bem a minha frente, como se nada acontecesse. Sem escândalo, eu começava a cavar nosso buraco, nossa derrota paralela. Eu já não jogo mais com a falsidade, mas a surpresa é sempre decisiva.