segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Obsoleto

Éramos três. A vadia, o fudido e o casal. Não nos conhecíamos, não tínhamos amigos importantes. Nunca conhecemos alguém famoso, nunca aparecemos na televisão. Não fizemos faculdade, não viajamos para o exterior. Somos manipulados pela mídia, não sabemos falar inglês. Por um acidente do destino, fomos postos a um lugar quase comum, em um horário comum de três. Éramos fudidos pela vida, pelo amor, pelo dinheiro. Por motivos pessoais, por motivos internos, emocionais, financeiros e todos aqueles outros que dizem no horóscopo de domingo. Dali, olhávamos os três, nós três. Apesar de tudo, ou por tudo, nossas vidas eram fascinantes. Estávamos apaixonados pela vida dos outros dois. Era interessante, era igual. Exatamente igual, porque no final, caía no mesmo buraco. Éramos três fudidos, igualmente fudidos. Sem diferenças, éramos perfeitamente iguais.

Éramos infelizes, e juntos descobrimos a nossa melancolia líquida. Inundávamos lugares, preenchíamos vazios. Para nós, era necessário a chuva no fim da tarde, o amor amaldiçoado, as juras de mentira. Para nós, é preciso errar e se enganar, confiar em quem não deve. E ganhar, perder, jogar. É necessário vivermos, amarmos, sofrermos. Para o texto sair bonito, para no fim do dia ter algum sentido. É preciso, para nós, um objetivo, um motivo, para ser forte e dizer "Nenhuma lágrima foi derramada".

Éramos os três iguais, amáveis, bonitos. Éramos três fudidos, sem grau ou comparação. Éramos três, nós três, o sentido da contradição.

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