Eram duas irmãs por explicações sociais. A primeira era bela, de corpo invejável e simpatia estonteante. Encantava-se por jardins de tulipas brancas, encantava-se pelo ardor do sol. Encantava a vida passageira. Era musa romântica, era idealizada à noite. Era perfeita, amada, guardada. Chamemos-na de Musa, com sua imagem à perfeição, longe do pecados e do materialismo. Era encantadora. Era ultraromântica
Eis que surge a segunda, e que pena que seja a segunda, pois era real e nada tinha para idealizar. Apesar de menor idade, já apresentava nos seios marcas avançadas, mostras da idade, de um tempo que já começava a castigar. Tinha muitos amores imaginados. Entregava-se aos homens sem pudor ou resquício. Entregava-se, e o fazia de uma vez só. Também era bonita, mas de uma maneira mais exótica. Chamemos-na de Libido, com seus defeitos e vontades, tão diferentes dos buscados por seus amores de mentira.
Cruzam-se os caminhos das jovens meninas, uma mais velha e uma mais prática. Uma bonita e uma de verdade. Liam textos diferentes, sofriam dores diferentes. A primeira, nossa Musa, era burguesa, e cantava à lareira versos para seu rapaz. A segunda, Libido, dançava a noite em ruas transversais, à procura de alguém, à procura de ninguém.
Em uma noite, à mais de meia-noite, em uma taverna cruzam-se as duas, reflexo da outra. A Musa, leve, veste um vestido branco, de gola alta e bainha dançante, no qual se vê, com alguma dificuldade, a leveza e sensualidade de algo entre o tornozelo e as pernas. Seu sapato é ligeiramente alto, seu cabelo é ligeiramente preso. Ela é ligeiramente, toda pequena, Musa idealizada.
Já Libido, voluptuosa, veste um vestido também, mas por aí acabam-se as coincidências das vestimentas. Sua roupa é de cor forte azulada, com um leve decote sobre o peito, no qual se vê a carne acima dos seios fartos. Desce justo pelo corpo, destacando a cintura fina e as cadeiras generosas, com um par de pernas grossas, acabando junto aos joelhos.
Entram juntas na taverna, sentam-se lado a lado, e sem seus copos bebem o frescor da noite da juventude. Uma busca amores, a outra busca verdades. E na vida da outra enxergam-se completas, pela vida de metades.
Pergunta Musa à Libido:
- Então entrega-te aos homens sem esperar por eles sua encomenda?
- Não encomendo nada, pois não espero que me esperem. Não busco nada além do alcanço, e se a meu alcanço está a noite, então é ela que vou ter. - responde Libido, que ainda se põe a perguntar: - Mas tu que encantas homens e os faz pensar, não busca também algum trabalho a dar? Consegues viver somente à base de amar?
- Vivo de amor, pois espero o mundo. E por enquanto não me cansas esperar. No fundo, espero sem saber a quê, pois tenho medo de revelar. Pois como vemos, quem sabe das coisas por aqui é tu, e é a ti que direciono o instante. - responde Musa.
- Busco o amor também, mas nunca consigo alcançá-lo. Talvez por idealizado em ti, não o vêem para mim, e assim sigo com tudo que me resta. Queria também ser amada, além de desejada, mas já não sei mais como faço isto. - diz Libido.
- Eu sou desejada, além de amada, pois para mim faço direcionar o desejo e o amor. Não faço nada sem medida, e sempre medida sou. Serei julgada, e o saberei. Não tenho medo, tenho amor.
- Pois de tanto perder o amor, já me cansei deste tal. Pois não quero mais viver sempre a buscar, e já não sei mais aonde achá-lo, neste vasto campo que me ponho a procurar. Depois de insistidas e jogos corriqueiros, perdi meus pontos neste jogo traiçoeiro. E agora, meu amor se perdeu de mim, e aqui estou à procura de alguém, para apenas outra noite passar.
- Então já amastes e fostes amada? Então não és tão seca quanto aparenta ser. Como podes, após tanta carga, ainda ser mais nova que eu? - pergunta Musa.
- Sim, eu fui amada. Na verdade, não passo de um avanço teu. E todas estas tuas histórias, já as vi uma ou duas vezes. Também sei o gosto do amor, mas sei além deste outros que ainda não sabes. Sei além deste o gosto da perda, da derrota, da traição. Sei o gosto do desejo amado, do amor perdido, da dúvida e da indecisão. Sou tua versão melhorada, tua versão piorada. Avançada, sou tua versão madura. Serás como eu, e também acharás a velha desilusão. Serás como eu, criança, ainda que em idade mais avançada. Tua tinta ainda há de ser um borrão.
Sem pestanejar, levantou-se Libido e deixou o lugar, com seu andar maduro e sólido, de quem já não quer mais nada.
E a minha cabeça rodou por um momento, por um caminho desconhecido até então.
Eis que surge a segunda, e que pena que seja a segunda, pois era real e nada tinha para idealizar. Apesar de menor idade, já apresentava nos seios marcas avançadas, mostras da idade, de um tempo que já começava a castigar. Tinha muitos amores imaginados. Entregava-se aos homens sem pudor ou resquício. Entregava-se, e o fazia de uma vez só. Também era bonita, mas de uma maneira mais exótica. Chamemos-na de Libido, com seus defeitos e vontades, tão diferentes dos buscados por seus amores de mentira.
Cruzam-se os caminhos das jovens meninas, uma mais velha e uma mais prática. Uma bonita e uma de verdade. Liam textos diferentes, sofriam dores diferentes. A primeira, nossa Musa, era burguesa, e cantava à lareira versos para seu rapaz. A segunda, Libido, dançava a noite em ruas transversais, à procura de alguém, à procura de ninguém.
Em uma noite, à mais de meia-noite, em uma taverna cruzam-se as duas, reflexo da outra. A Musa, leve, veste um vestido branco, de gola alta e bainha dançante, no qual se vê, com alguma dificuldade, a leveza e sensualidade de algo entre o tornozelo e as pernas. Seu sapato é ligeiramente alto, seu cabelo é ligeiramente preso. Ela é ligeiramente, toda pequena, Musa idealizada.
Já Libido, voluptuosa, veste um vestido também, mas por aí acabam-se as coincidências das vestimentas. Sua roupa é de cor forte azulada, com um leve decote sobre o peito, no qual se vê a carne acima dos seios fartos. Desce justo pelo corpo, destacando a cintura fina e as cadeiras generosas, com um par de pernas grossas, acabando junto aos joelhos.
Entram juntas na taverna, sentam-se lado a lado, e sem seus copos bebem o frescor da noite da juventude. Uma busca amores, a outra busca verdades. E na vida da outra enxergam-se completas, pela vida de metades.
Pergunta Musa à Libido:
- Então entrega-te aos homens sem esperar por eles sua encomenda?
- Não encomendo nada, pois não espero que me esperem. Não busco nada além do alcanço, e se a meu alcanço está a noite, então é ela que vou ter. - responde Libido, que ainda se põe a perguntar: - Mas tu que encantas homens e os faz pensar, não busca também algum trabalho a dar? Consegues viver somente à base de amar?
- Vivo de amor, pois espero o mundo. E por enquanto não me cansas esperar. No fundo, espero sem saber a quê, pois tenho medo de revelar. Pois como vemos, quem sabe das coisas por aqui é tu, e é a ti que direciono o instante. - responde Musa.
- Busco o amor também, mas nunca consigo alcançá-lo. Talvez por idealizado em ti, não o vêem para mim, e assim sigo com tudo que me resta. Queria também ser amada, além de desejada, mas já não sei mais como faço isto. - diz Libido.
- Eu sou desejada, além de amada, pois para mim faço direcionar o desejo e o amor. Não faço nada sem medida, e sempre medida sou. Serei julgada, e o saberei. Não tenho medo, tenho amor.
- Pois de tanto perder o amor, já me cansei deste tal. Pois não quero mais viver sempre a buscar, e já não sei mais aonde achá-lo, neste vasto campo que me ponho a procurar. Depois de insistidas e jogos corriqueiros, perdi meus pontos neste jogo traiçoeiro. E agora, meu amor se perdeu de mim, e aqui estou à procura de alguém, para apenas outra noite passar.
- Então já amastes e fostes amada? Então não és tão seca quanto aparenta ser. Como podes, após tanta carga, ainda ser mais nova que eu? - pergunta Musa.
- Sim, eu fui amada. Na verdade, não passo de um avanço teu. E todas estas tuas histórias, já as vi uma ou duas vezes. Também sei o gosto do amor, mas sei além deste outros que ainda não sabes. Sei além deste o gosto da perda, da derrota, da traição. Sei o gosto do desejo amado, do amor perdido, da dúvida e da indecisão. Sou tua versão melhorada, tua versão piorada. Avançada, sou tua versão madura. Serás como eu, e também acharás a velha desilusão. Serás como eu, criança, ainda que em idade mais avançada. Tua tinta ainda há de ser um borrão.
Sem pestanejar, levantou-se Libido e deixou o lugar, com seu andar maduro e sólido, de quem já não quer mais nada.
E a minha cabeça rodou por um momento, por um caminho desconhecido até então.
Adorei, menina! Porque nada é tao verdadeiro quando isso.
ResponderExcluirAmiga que lindo =)
ResponderExcluirAs aulas de literatura estão te inspirando é ?
Parábéns =)