quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Escondido

"No rosto o desgosto, é um pouco sozinho"

Me deixo arfar no consciente obtuso. Com a clareza da manhã. o dia começa e me encanta; eu simplesmente não consigo negar. A evidência do pecado é a mais bonita das gentilezas, puramente humana. Vence a barreira do moralismo caótico, vence todas as barreiras. É levado pelo estímulo, pelo instinto. É animal, e bonito, e vulgar. É supremo como o raiar do sol, o nascer do dia. É a vida, humana ou não, fazendo-se acontecer como deve ser. É a beleza desigual, aonde o céu toca o mar para uma platéia maravilhada. É um lugar de Deus, bonito e puro. É um lugar do pecado, tentador como tal. Une extremos, pueril. Luta a vida remanescente no local. Vira céu o mar , chama de volta. Vira céu o mar, meu lugar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Fuga de Tema: Posse do Obama

Fugindo do tema do blog, vou falar do assunto do dia: a posse do Obama. Blá, blá, blás à parte, acho que eu não preciso explicar quem ele é.

Hoje eu abri o jornal e, se não fosse pela reportagem em português, eu facilmente confundiria o meu país. Eram bem umas quatro páginas para o Obama. Sim, ele é um presidente negro num país preconceituoso. Realmente, é uma barreira quebrada quanto ao preconceito racial. Mas não deve ser esquecido que ele é americano, e ele nunca seria eleito se não estivesse defendendo os interesses americanos, fosse ele branco, negro, amarelo ou vermelho. Acaba de sair um presidente extremamente impopular, e era lógico que o candidato do partido adversário já começasse com vantagem.

É besteira pensarmos que ele vai salvar o mundo ou melhorar as coisas. Ele é um presidente americano para o povo americano. E isso não tem nada a ver com ser bonzinho com os latinos, africanos ou islâmicos. Na verdade, tem a ver com o contrário. Ele não pode ajudar o mundo todo e se tornar o salvador, já que isto atrapalharia seriamente as empresas do país. Ele não foi eleito por ser negro. Ele foi eleito por ter idéias compatíveis com a política americana, para defender os interesses do seu país, que, se muitos já esqueceram, é algo parecido com ganhar dinheiro apesar de tudo. E não dá para ganhar muito dinheiro ajudando o resto do mundo.

Entre ganhar dinheiro e ajudar o mundo, os Estados Unidos já mostraram há muito a sua posição.

Não é a chegada de um Messias, não é o fim do aquecimento global nem a criação do estado da Palestina. É só mais um presidente americano, com valores americanos, como todos os outros quarenta e três anteriores. Não tem sentido nós torcermos por ele, ou comemorarmos a sua posse. Ele é americano, e só.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Desejo

O barulho é aterrorizante. Nos fechamos em nosso mundo. O medo se apodera de mim, porém não mais forte do que a vontade, o desejo. O corpo claro e proibido na minha frente me faz esquecer que me esperam lá fora. É quase uma garagem velha, é a nossa suíte agora. Não passa de um banheiro velho e fedorento, que aguenta firmemente após quatro horas de festa. Papel higiênico usado sossega tranquilamente no chão de madeira. Não há ninguém que reconheça meu rosto neste baile de máscaras, diferente do dele, famoso pelos quatro cantos do salão. Sua esposa aguarda em casa, e nós dois sabemos que ela sabe de tudo. Meu parceiro, companheiro, amante não imagina nada disso. E nós dois também sabemos que ele me deve. Atira-me na parede contra a privada, arrancando minha blusa. Beija-me loucamente como se esperasse há muito por isto. Na verdade, há muito mais esperamos por isto. Em silêncio, em segredo. Quando um guardava o desejo do outro escondido sob a maquiagem, sem a necessidade de uma provocação, sem a necessidade de um outro olhar. Nós dois sabíamos exatamente o que acontecia. Mais do que divertido, era perigoso. Desliza a boca em mim, convertendo saliva em suor. E numa épica cena romântica, acha-me escondida, e já não precisamos de mais nada.

A cena continua a mesma. Algumas meninas abandonadas à espera de alguém se sentam longe da vista. A festa segue animada, com todos os nossos conhecidos em comum presentes. Eu o vejo se aproximar do resto do time, ajeitando o cabelo claro de leve. As mãos trêmulas, o amigo entendendo. Seu sorriso me explica, somos cúmplices agora. Viro meu rosto, e lá está meu príncipe mentiroso. Seus amores antigos ocultos sob a fachada. O sorriso mais bonito de todos se vira na minha direção. Me chama, me beija, me abraça. Camadas abaixo, curvas melhores fazem menção. Mas agora eu também tenho meus segredos.

Homens e a Metade em Cigarros

Eu o observava de longe. Não era exatamente o que se pode chamar de "homem". Devia ser meio homem, ou algo perto disto. O tempo todo que eu fiquei a observá-lo, ele não fumou um cigarro sequer. Como ele pode ser um homem sem um cigarro?

Eu costumo avaliar as pessoas pelo cigarro. Quando vem com aqueles cigarros cheios de frescura, eu nem continuo. Sei que não é gente da vida, que não tem nem história para contar. Normalmente, são meninos com o carrinho do papai. Tem aqueles que usam filtro também. Coisa de viado. Ou fuma direito ou não fuma. Ficar de frescura pedindo cigarro com filtro é a maior idiotice que eu já vi. Pior do que cigarro com sabor. Homem que é homem fuma puro, sem filtro, sem sabor. Tem também aqueles que compram o mais caro, cheio de frescura para mostrar para os outros. Aquelas porcarias nem são cigarro, são Sampoerna, e todo mundo sabe que Sampoerna não é cigarro. E eu só fico olhando de longe, rindo sozinho.

Mas esse não. Ele não fumava. Como alguém vem em um bar, às tantas horas da madrugada, e não pede um cigarro? Se ele pedisse algum, ou fingisse que pediu, eu poderia avaliar, dizer para mim mesmo se era boa coisa ou não. Mas nem isso ele fez. E isso me cativou profundamente. Eu tinha que falar com ele.

Sem rodeios, eu cheguei no balcão e perguntei:
- Você não fuma?

Ele olhou para mim, primeiro surpreso, depois ligeiramente ofendido com a pergunta. Olhava diretamente para o meu Carlton, parecia ter medo. A fumaça saía deliciosa, quase irresistível para mim.

- Não. Por quê? - ele perguntou, ainda espantado. Ele se fez mais interessante. Como poderia sentir o cheiro do meu cigarro e dizer, com toda aquela convicção, que não fumava?

- É estranho. Você é o primeiro aqui que não fuma.
- Percebi... - ele falou, olhando em volta, confirmando o que dissera, e virando o rosto, encerrando a conversa.

Eu voltei para a minha mesa, tão confuso quanto antes. Alguém que não fumava... Ele era simplesmente imune ao cigarro. Eu olhei para o meu, entrelaçado ente meus dedos, e dei um último trago. Para acender outro, claro.

Por toda a noite eu fiquei observando o rapaz. Ele era totalmente imune. Não sentia nada, nem felicidade, prazer ou vontade. Pelo contrário, se incomodava com a fumaça. Um senhor se sentou perto dele, fumando um Gudang de menta, e incrivelmente ele se sentiu nauseado e se sentou mais longe.

Foi a cena mais incrivelmente aterrorizante da minha vida.

Naquele momento, o rapaz percebeu a atenção que eu lhe dava e, ocasionalmente, se virava para trás, para ver se eu ainda o observava, de forma discreta. Então eu fiz algo inédito para mim: disfarcei. Quando ele se virava, eu olhava para os lados, fingia que não via, desviava a atenção.

E numa destas, percebi que todo o resto do bar, inclusive eu, fumava. E a maioria fumava cigarro sem filtro ou sabor. Então, fiz-me lúcido, e ele era o homem, e nós, apenas meio homens, ou algo perto disto. Majestosamente, ele ergueu seu copo e tomou um puta gole de cerveja, como se celebrasse a sua conquista de "Homem do Bar". E era cerveja! Não era rum, vodka ou uma caipirinha qualquer. Era cerveja!

Discretamente, eu me levantei e saí do bar, antes que ele percebesse a minha ausência. Lá fora, olhei para o meu Carlton, ainda grande entre meus dedos, e dei uma tragada. Forte, potente, capaz de ser sentida nos lugares mais profundos dos meus pulmões. Ele era o homem. Ele me vencera. Eu nunca mais poderia, pensaria em entrar naquele recinto novamente.

Mas eu não era tão forte. Segui para o próximo bar, ainda fumando meu cigarro.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Definição

Definição: s. f.; ato de definir; exposição clara, concisa de alguma coisa; significado; determinação; limite.
"Definidas as regras, rolam-se os dados."

Não era amor, nem mesmo sexo, ou alguma luz no limiar das barreiras. Questionava-se se era vivido. A fenda estreitava-se pelo desejo, acima e abaixo, e o que quer que seja. Era indescritível, mas não por ser algo impactante e avassalador, mas por ser algo misterioso e diferente. Pois além do espelho não havia nada, e os restos jaziam lado a lado. O caminho sinuoso escolhido, bonito além da vista, mas perigoso de um jeito silencioso e suave. Secreto, como as curvas do quadril aonde é possível sentir, no mais ínfimo toque, a carne lançando força contra a pele. E mais abaixo a linha tênue se perde em um turbilhão de imagens. Talvez seja esta a definição, como algo insano ou translúcido. Aonde a carne se encontra com a pele. Aonde os corpos se misturam.

Alice

Eu te vejo. Eu te sigo, eu te venero. Desrespeito a tua imagem de marido, esqueço o compromisso, me entrego ao primeiro oficial. Para te deixar na amargura das palavras, na dúvida. Eu me faço invejada, rio na tua cara, enceno o que eu quiser. Porque eu sou falsa, e sei mentir, e minto dizendo que não sei mentir. Porque eu amo e desamo com a velocidade da luz. Me apaixono, me apego, reinvento, sem pena. Eu não tenho pena, não tenho medo. Eu não me arrependo. Eu vivo com a alma e com todo o calor que há nela. Eu me embaraço, eu me perco em mim. E me acho em ti, de braços abertos, de olhos fechados.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Declaração de Amor

Eu não sou como os outros. Tudo eu sinto em dobro. Eu amo em dobro, sofro em dobro, vivo em dobro. Porque toda a minha vida é vivida duas vezes: uma vez na carne e outra no papel. Escrever me fez importante, pelo menos para mim. Eu poderia viver sem água ou ar, mas não sem meu caderno. É mais do que palavras e versos. É paixão, amor, necessidade. Sim, eu necessito escrever. É um vício e eu não posso parar. Eu não quero me curar. Eu nasci para escrever, e isto é visível desde o meu primeiro texto. Eu sou feita de palavras, de poesia, de amor, e aqui, enterrada em meu caderno, eu vivo novamente. Aqui nascem meus amores. Aqui floresce a minha vida.

Irreal

Ele não falava, enrolava, fugia do assunto. Ela reclamava e dizia umas verdades, fingindo não dizer. Pressionavam, delicados, por motivos diferentes. Mas voltavam sempre pelo mesmo caminho.

Aquela noite, o céu era negro. Não havia nenhuma estrela ou risco de Lua. Se misturava ao mar como em uma aquarela. Nada se via no horizonte, como se este não existisse. Um abraço quebrava o silêncio da paisagem, ainda que sem fazer barulho. Não eram necessários sons, o mar já bastava, envergonhado de seu escândalo e de suas ondas nervosas. Uma fogueira, avisando sobre os ritos, ardia sem efeito. O frio reinava apesar do fogo. Uma brisa gelada batia nas costas nuas da garotas, fazendo-se desimportante, uma vez que a garota já tremia. Para sempre ficaram ali, como parte do cenário, até se moverem, lentamente, em um beijo tímido, vil, lascivo.

Se abraçaram novamente, quando a fogueira se apagou. O calor do fogo, pequeno em comparação, já não servia mais.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Makes Me Wonder II

O que é um condenado sem a condenação? Não há pior do que aquela que emana da alma. Não se sente ou culpa. Não há fatores externos. Há um buraco, uma vez que falta algo. Há a consciência, dia após dia, matando, de dentro para fora.


A cabeça pesa na cama
É incrível o poder da verdade,
ainda que somente sobre mim.
Me pergunto se só eu, de todos nós,
posso ouvir o canto dos pássaros.

Ou até quando
insistirei no mesmo assunto,
e ouvirei a mesma música.
Que canta enquanto eu faço
E falo sobre nós,
o que não significa dois.

As formas mais sutis,
e nelas nos camuflo.
Pergunte-me meus assuntos.
Pergunte-me minhas idéias.
A minha parte já foi feita.

Feita em dobro.
O bem e o mal.
Para nunca mais ser lembrada.
Para nunca mais ser esquecida.


Pudera ir com o vento
E nos levar para longe daqui.

Makes Me Wonder

Era um bar. Não um botequim, um bar. Daqueles que a gente vê em filmes antigos, com aquela luz tosca iluminando fracamente o lugar. Na frente do usual piano, uma vitrola tocava Led Zeppelin. Ao corredor, que se estendia paralelo a entrada, um homem com a barba por fazer e a aparência cansada limpava uns copos, sem nenhum sucesso. Apesar da hora, o sol começara a se recolher no céu, o bar já tinha freguês. Uma mulher, a dona do disco que tocava, dançava sozinha no salão pequeno. Até a música acabar, ela faz o seu vestido vermelho balançar pelo ar, com a melancolia da tarde.


A música acaba. Ela para o disco e vai para o piano sem pedir licença, de costas para o bar. Outros fregueses, todos homens, começam a chegar, atraídos pelo vestido. Ela se senta ao piano e começa a introdução conhecida por poucos no bar. Alguns minutos, e ela começa a cantar, com a voz triste, cansada, sobre alguém que está comprando uma escadaria para o paraíso.

Ainda que desconhecida pela maioria, e ainda que todos tenham vindo pela moça, a clientela começa a se aproximar do salão em silêncio, observando a moça. A tristeza é contagiante, e, ainda assim, impossível de ser decifrada.

“Makes me wonder”

Um homem, com pelos no rosto suficientes para o corpo de um rapaz, se senta a uma mesa, a mais próxima do salão, e fica a olhar a mulher. É notório que ele não entende a música, mas não deixa de soltar uma lágrima, que, escondida, desaparece pela barba. Aonde até os mais fortes choram

Ela desenha um solo no piano, as mãos finas. A esta altura, é possível até para o barman sentir a música. A partir de então, nenhuma palavra é dita por todo o bar. Nenhum barulho é feito, exceto pelo frenético do piano. É impossível ouvir uma respiração ou um suspirar.

“And she’s a buying a starway to heaven”


A música termina. Ela se levanta e encara um bar com cerca de dez homens. Todos com idade para, no mínimo, serem seus amantes. Todos são tocados pela música como meninos, crianças em uma igreja. Uns dois ou três enxugam as lágrimas, desajeitados. Ela também tem o rosto molhado, mas não o seca. Atravessa o bar confiante, apesar de devagar, sem pedir licença. Deixa o bar pela única porta da frente. Deixa o bar, e nenhuma palavra é dita pela eternidade do tempo.

Muito tempo se passou para alguém ouvir algo por ali novamente. Até que se começa a cantar como ela pela vitrola.

sábado, 10 de janeiro de 2009

O Sexo II

Deviam pedir autorização aos pais para transar. Não quero dizer os filhos pediram aos pais para transarem. Os filhos dos outros deviam pedir autorização para nós para transarem com nossos filhos. Não é algo que qualquer um pode vir e levar. Tem que ser minuciosamente escolhido, a dedo. Eu realmente lamento que não posso escolher os namorados, e tem vezes que dá vontade de mandar eles devolverem ou trocarem na loja, porque aparece cada mequetrefe...

Teve uma vez que meu filho trouxe uma menina, que era três vezes maior que ele, com um moicano vermelho, igualzinha a uma bola de futebol americano em pé. Árvores seculares eram mais fáceis de abraçar do que ela. Não preciso dizer que um braço do meu filho não chegava a outra extremidade. Mas, a pedidos, resolvi dar uma chance para a menina e a convidei para um almoço de domingo. Algo bem chato para ver se ela desistia logo, com frango de padaria e salada de agrião. Pois bem, e a menina me arrota no meio da mesa. Não dava! Depois disso, o clima ficou pesado e logo terminou, e ela saiu da minha casa feliz da vida, como se não tivesse feito nada. E nem elogiou a minha comida!

Quando a minha filha já estava meio rodada, lá pelo quarto namorado dela, ela apareceu com umas conversas tortas, do tipo "virgindade não leva a nada", e eu percebi logo a dela. Mas eu estava tranquila, pois ela não tinha namorado realmente, de verdade. Na minha mente retrógrada de mãe velha, achei que tinha que ter um namorado para isto. Foi eu olhar para o lado e a garota tinha arranjado um namorado, e já tinha feito a porra do sexo. Palavras à mãe: nenhuma. Opa, teve sim. Um mês depois ela me disse: "mãe, transei" e foi tomar banho, me deixando sozinha, com a minha cabeça a mil. Lógico, eu fiz questão de conhecer o sujeito, mas ela logo me proibiu de fazer um almoço de domingo.

Eu estava sentada, então, um dia na sala, e ela chega e diz: "Mãe, esse é o André, meu namorado" e vai trocar de roupa, me deixando sozinha com o menino. Não, ele não era mais um menino, ele era um homem. No auge dos seus dezenove anos, era grande e forte, até demais. Confesso que uns vinte anos a mais (ou a menos) e eu é que tinha dado para ele, mas essa não era a questão. O que estava acontecendo é que ele estava transando com a minha filha. E, lógico, sem a minha permissão. Na verdade, pouco importava para eles a minha permissão. Eles iam continuar transando com ou sem ela. O máximo que eu podia fazer era me certificar que ele era gente boa, antes de começar a colocar as minhocas na cabeça dela.

Meia hora de conversa depois, eles saíram. Claro que eu não pude deixar de pensar que ele estava indo levar a minha filha para um motel. Graças a Deus ela era menor de idade, e eles não iam conseguir nada em lugar nenhum. Ele era um rapaz simpático, educado e um pouco tímido. Eu descobri que estudei na mesma escola que o pai. Me fiz de desentendida, mas eu sabia quem o pai dele era. Todas as meninas da minha turma, menos eu, queriam namorar com ele. No final, uma idiota lá conseguiu e frustrou todas nós. Opa, menos eu.

Quando eles saíram, eu ainda fiquei olhando a porta, esperando ele voltar e pedir minha autorização, mas eles não voltaram. O desapontamento era imenso. Com lágrimas nos olhos, eu voltei para a minha novela. Realmente, filhos são para o mundo.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Minha Amiga de Infância

Desta vez, escrevo para alguém. Assim mesmo, direto e declarado. Em um momento autoritário, meu espaço, e eu posso, sim, usá-lo para fins melosos e emocionais. (;


De anos, desde os meus... hum... oito anos, somos amigas. A conheci quando eu tinha cinco anos e meio. Eu sei, eu era um bebê. E ela também, que tinha seis. A viada sempre se gabou dos seus seis meses a mais do que eu. E eu sempre me defendi por meus dois metros a mais (cof cof).
Eu sempre via, e ainda vejo, amigos de infância que cresceram juntos, lado a lado, passando por tudo de ruim com o outro. Bem, nesta "cigana life style" que meus pais adotaram eu nunca tive ninguém que eu dissesse "este nasceu comigo", exceto, lógico, as minhas irmãs.
Esta já é a minha quarta cidade em quinze anos, e os meus dias aqui estão contados (malas prontas assim que passar no vestibular, seja lá para onde). Todas estas cidades eram pequenas, e sempre foi muito comum eu ver amigos meus falarem de outros amigos como sendo amigos há milhares de anos. E isto nunca foi para mim. Hoje, na cidade onde eu moro, minhas amizades mais antigas tem quatro anos. Não é uma reclamação, só estou analisando o ponto.
Pois bem, em virtude disto, nunca houve, exceto novamente as Lyrio, alguém que fechasse comigo. Eu quero dizer, alguém que tivesse a mesma linha de raciocínio que a minha, construída da mesma forma. Que desse valor a um mapa, a um livro do Harry e a um solo de guitarra do Legião exatamente da mesma forma. Alguém com quem eu discutisse por horas, ou anos.
Pois bem, eu estava completamente errada.
Na minha infância eu tive vários (diferente de muitos) amigos. Mas imagine-se criança, mudando constantemente em um mundo em que a internet ainda é um animal distante (não que isto sirva de desculpa ou algo assim). Eu perdi amizade com todos. Amizades estas que hoje eu tento ainda todo dia reconquistar.
Eu perdi amizade com todos, menos um. Ou melhor, uma.
Nós nos distanciamos, sim. Muito mais do que eu esperava. Mas daqueles tempo cenecistas, ela é a única que me enche o peito (e os olhos) quando eu digo "ela é minha amiga". E daqueles tempos, e de outros, a amizade dela é a que eu mais quero e tento reconquistar, pois, de todas aquelas, é a mais importante para mim.
Ela me deixava puta com as nossas discussões, e quantas inúmeras vezes nós brigamos. Alguns motivos sérios, outros mais bobos. Nós bolávamos planos mirabolantes e até chegamos a formar um grupo (ou banda, conjunto, sei lá), que tinha até músicas! E ainda me lembro da nossa despedida, como chorávamos como duas desesperadas.
Eu também tenho uma amiga de infância, melhor que muito amigo mais antigo e mais unido por aí. Ainda que estejamos a quilômetros de distância, na essência, somos iguais. Os mesmos valores, as mesmas idéias, construídos do mesmo jeito. Ainda que única, é a melhor de todos.
No meu quadro de avisos, onde só estão os especiais, está a nossa foto. Vestidas de anjinhas, de branco, para a apresentação da igreja que ficava perto das nossas casas. Ela rindo para a câmera feliz da vida mostrando o novo par de dentes. Eu, com o olho três vezes maior, louca para ir embora por ter sido a única idiota que não levou outra roupa e teve que ficar de anjinho até o final. Tempos, nossos tempos.
Amiga, sinto a tua falta. E espero, assim como aconteceu com as nossas irmãs (sempre com elas primeiro), ser tua "vizinha" de novo. Seremos grandes, amiga, exatamente como éramos grandes naqueles tempo. Eu te amo, amiga de infância.
E ainda nos vejo velhinhas naqueles balanços, exatamente como você escreveu para mim uma vez.

Só Sei Ser Extremista

Beija-me a pele, arde-te em chamas. Invoca os deuses no além-mar. Brinca a noite, uma criança. É festa, brilha Iemanjá. A pele negra tem mais luz que a Lua. Os olhos vorazes que tem sede. Do meu corpo, da beleza que emana. Sede de calor e de desejo que as noites de janeiro já não fazem voltar. Teu beijo me abraça, abençoa, peca e consome. Sob os raios do Deus-Pai, além da vista somos amantes. Entrego-te crua minha carne. A noite quente segue, como em um dia de festa. Além da pele, faz-se noite o dia. Faz-se luz a Lua. Nossa cúmplice, num insano ato de amor.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Impulso

Impulso. Atira-se; impulso. Morre-se; impulso. Em uma versão de mentiras, histórias. Cantadas, formadas, não há hora. A dança não canta, movimenta-se. O suave veneno do vestido da menina. Agora em uma bandeja de prata, e o impensável, fica-se para trás, já é uma realidade. Fica-se sozinho, condena-se. Mas, diga, quem não faria igual? Egoísmo, a chave. Direciona para frente como em um vôo, sem ver o chão à frente, sentindo o ar, falta ar. E já não se existe mais. Ache quem não faria igual e então condene. Impulso te joga, te lança, te morde, te mata. Impulso não vale, não conta. É fora. Põe-se fora o impulso, e então nunca mais se volta.