terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Makes Me Wonder

Era um bar. Não um botequim, um bar. Daqueles que a gente vê em filmes antigos, com aquela luz tosca iluminando fracamente o lugar. Na frente do usual piano, uma vitrola tocava Led Zeppelin. Ao corredor, que se estendia paralelo a entrada, um homem com a barba por fazer e a aparência cansada limpava uns copos, sem nenhum sucesso. Apesar da hora, o sol começara a se recolher no céu, o bar já tinha freguês. Uma mulher, a dona do disco que tocava, dançava sozinha no salão pequeno. Até a música acabar, ela faz o seu vestido vermelho balançar pelo ar, com a melancolia da tarde.


A música acaba. Ela para o disco e vai para o piano sem pedir licença, de costas para o bar. Outros fregueses, todos homens, começam a chegar, atraídos pelo vestido. Ela se senta ao piano e começa a introdução conhecida por poucos no bar. Alguns minutos, e ela começa a cantar, com a voz triste, cansada, sobre alguém que está comprando uma escadaria para o paraíso.

Ainda que desconhecida pela maioria, e ainda que todos tenham vindo pela moça, a clientela começa a se aproximar do salão em silêncio, observando a moça. A tristeza é contagiante, e, ainda assim, impossível de ser decifrada.

“Makes me wonder”

Um homem, com pelos no rosto suficientes para o corpo de um rapaz, se senta a uma mesa, a mais próxima do salão, e fica a olhar a mulher. É notório que ele não entende a música, mas não deixa de soltar uma lágrima, que, escondida, desaparece pela barba. Aonde até os mais fortes choram

Ela desenha um solo no piano, as mãos finas. A esta altura, é possível até para o barman sentir a música. A partir de então, nenhuma palavra é dita por todo o bar. Nenhum barulho é feito, exceto pelo frenético do piano. É impossível ouvir uma respiração ou um suspirar.

“And she’s a buying a starway to heaven”


A música termina. Ela se levanta e encara um bar com cerca de dez homens. Todos com idade para, no mínimo, serem seus amantes. Todos são tocados pela música como meninos, crianças em uma igreja. Uns dois ou três enxugam as lágrimas, desajeitados. Ela também tem o rosto molhado, mas não o seca. Atravessa o bar confiante, apesar de devagar, sem pedir licença. Deixa o bar pela única porta da frente. Deixa o bar, e nenhuma palavra é dita pela eternidade do tempo.

Muito tempo se passou para alguém ouvir algo por ali novamente. Até que se começa a cantar como ela pela vitrola.

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