Quanta gente foi preciso que eu deixasse pra trás pra chegar onde cheguei. Quantas vezes vivi amores intermináveis só pra ver aonde iam dar. Quantas vezes chorei o não poder, sem ver que quem ganhava era eu. Já xinguei pessoas maravilhosas, e odiei o curso do destino. Tive que perceber que, apesar das palavras, não é todo mundo que você leva para a vida inteira. Vivi ao máximo, cheguei a extremos. Nas manhãs feias, eu vivia somente o dia seguinte. Nos dias de tempestade, eu chorava de medo. Fui menina e fui mulher. Aprendi a advinhar. Tive que sair do meu casulo um dia para buscar amor fora de casa. Tive que aprender a fazer amigos. Aprendi a chorar, a mentir. Parti corações na minha jornada, e colei alguns também. Agradeço aos ombros que me emprestaram, quando eu precisava cair. Agradeço aos abraços de despedida, todos estampados em mim. Agradeço as palavras simples, aos versos de amor, as mentirinhas bobas, aos dias perfeitos, as fotos excluídas, ao corpo do lado, aos meus pais. Eu não tenho medo do futuro, olho para trás e vejo tudo que eu já ganhei. A vida é mais que bela, é linda. Enquanto há o sol e alguém para eu abraçar, sei que nada vai me por no chão. E assim é fácil seguir, à sombra.
domingo, 20 de dezembro de 2009
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Incerteza, amor
Capacidade de amar, de sobreviver.
Amor, meu amor. Nosso amor.
Tolerância, amor, sobreviver. Amar além da alma, amar além da vida. Amar, meu amor, amar. Se não outra forma alternativa de vida que não sair pelo meu mundo, pelo mundo meu e seu, atrás da nossa aurora roubada. Sair, meu amor, por aí. Amor, meu amor. Meu amor, que outrora roubado, perdido, me fez perder toda a vitalidade das veias. Amor, pelo meu mundo, por mim. Amor só por mim, roubado da vida. Amor, meu amor, que você ainda finge amar, pelo meu mundo maior e sozinho.
Amor, meu amor. Nosso amor.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Cunhado pouco é bobagem
Choviam céus lá fora quando eu fui ao portão. Eram os dois chegando: Evandro e Eduardo. Evandro era de longe mais bonito. Vinha na frente, correndo da chuva com as mãos na cabeça e com o menor atrás. Cunhado é uma merda, mesmo, não importa em que parte do mundo você está. Na minha casa não ia ser diferente. Como não dava pra deixar o guri do lado de fora, tive que convidar para entrar. E o que era pra ser um jantar romântico virou um encontro de família. O Evandro disse que não podia deixar o outro em casa porque estavam sozinhos na casa dos pais. Claro, querido, pode trazer. Eu até passei o dia no fogão para isso mesmo.
Não sei quando foi que Deus criou o cunhado, mas certamente não foi num dia bom. Ele estava de mau humor ou algo assim. Feliz era Eva, que não tinha nenhum Adamastor ou Adalberto. Os meus namorados sempre ganham uma penca de cunhado, somos quatro irmãs e dois irmãos, então eu nem me importo em falar mal de cunhado. Sei muito bem do que estou falando. Sei muito bem que eu tenho razão.
Aliás, não descobri ainda a utilidade desta raça à parte. Eles não servem para programas de casais, porque eles não são tão legais. Eles não servem para eventos de família, porque não são tão chatos. Eles não servem para emprestar dinheiro, porque nunca tem mais dinheiro que você. Eles não servem para ter uma conversa sério com o seu parceiro, ou com o seu irmão, porque eles nunca entendem exatamente o que você quer que seja conversado. Ou quando entendem, discordam.
Eles só servem para te julgar, te avaliar e depois sair correndo e contar tudo para a mãe em comum, também chamada como sogra. Mas sobre esta eu não vou comentar, porque eu tenho que admitir, a mãe do Evandro é uma gracinha, e não acredita muito no Eduardo.
Na verdade, eu poderia até dizer que o problema das relações modernas consiste, exatamente, no ponto chamado cunhado. Eu até diria que cunhado mais do que cunhada. E esse era exatamente o meu problema com o Evandro. Ele era um amor. Fazia o que eu queria, estava sempre disposto, me amava imensamente, e eu a ele, mas ele vinha com um irmão. E aí a coisa começa a esquentar. Até o quinto mês, com sorte sexto, eles são quase como irmãos para você. Mas então as coisas mudam, e então eles mostram que, não, não são irmãos. São cunhados. E também, não, não são bonitinhos ou fofinhos ou engraçadinhos. Que, sim, eles vão reclamar de você, e, sim, você nunca vai ser tão boa assim, e, pois é, você não vale a pena.
- Qual pena? Ora, não importa. Você não vale. -
Não sei quando foi que Deus criou o cunhado, mas certamente não foi num dia bom. Ele estava de mau humor ou algo assim. Feliz era Eva, que não tinha nenhum Adamastor ou Adalberto. Os meus namorados sempre ganham uma penca de cunhado, somos quatro irmãs e dois irmãos, então eu nem me importo em falar mal de cunhado. Sei muito bem do que estou falando. Sei muito bem que eu tenho razão.
Aliás, não descobri ainda a utilidade desta raça à parte. Eles não servem para programas de casais, porque eles não são tão legais. Eles não servem para eventos de família, porque não são tão chatos. Eles não servem para emprestar dinheiro, porque nunca tem mais dinheiro que você. Eles não servem para ter uma conversa sério com o seu parceiro, ou com o seu irmão, porque eles nunca entendem exatamente o que você quer que seja conversado. Ou quando entendem, discordam.
Eles só servem para te julgar, te avaliar e depois sair correndo e contar tudo para a mãe em comum, também chamada como sogra. Mas sobre esta eu não vou comentar, porque eu tenho que admitir, a mãe do Evandro é uma gracinha, e não acredita muito no Eduardo.
Na verdade, eu poderia até dizer que o problema das relações modernas consiste, exatamente, no ponto chamado cunhado. Eu até diria que cunhado mais do que cunhada. E esse era exatamente o meu problema com o Evandro. Ele era um amor. Fazia o que eu queria, estava sempre disposto, me amava imensamente, e eu a ele, mas ele vinha com um irmão. E aí a coisa começa a esquentar. Até o quinto mês, com sorte sexto, eles são quase como irmãos para você. Mas então as coisas mudam, e então eles mostram que, não, não são irmãos. São cunhados. E também, não, não são bonitinhos ou fofinhos ou engraçadinhos. Que, sim, eles vão reclamar de você, e, sim, você nunca vai ser tão boa assim, e, pois é, você não vale a pena.
- Qual pena? Ora, não importa. Você não vale. -
Na maior parte das vezes, isso passa quando se deixa de ser cunhado. Salvo alguns casos que o maldito não percebe este detalhe, e insiste em se comportar como tal.
Depois do jantar, o menino ainda ficou conosco, conversou, elogiou a casa e fingiu até que era uma gracinha. Estamos no sexto mês de namoro, o que significa que meu prazo de validade está acabando. Aquele sorriso tão simpático já começa a cair, e você já não está mais a fim de ser tão legal assim. As coisas começam a parecer como realmente são, e como eles nunca vão deixar de ser irmãos, a única opção era fingir que o Evandro era filho único, exceto em momentos fisicamente conflitantes, como natais e aniversários.
Por sorte, já estava tarde, e, que pena, eles não podiam ficar mais. Mas tudo bem, o jantar foi mesmo uma maravilha, e a gente tinha que marcar de se ver mais. Afinal, somos família, não é?
Família é o cacete, que cunhado não é família. Certa era a minha tia, que dizia que se cunhado fosse bom, não começava com cu e rimava com viado. A cunhada dela era a minha mãe, mas ainda assim, ela tinha toda a razão.
Nota Minha: Eu não tenho cunhado, e adoro os meus "quase-cunhados". ^^
Nota Minha: Eu não tenho cunhado, e adoro os meus "quase-cunhados". ^^
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Selo Blog de Ouro
Antes de tudo, gostaria de agradecer imensamente ao Calixto, que me indicou ao selo. Mais, obrigada por ter me ensinado a escrever um texto. Sendo meu professor de redação, você tem uma parte nisto aqui, certamente.
Quando eu li no Pictorescos que eu tinha sido indicada, pensei em mil coisas, quase todas ruins. Coisas essas sempre relacionadas ao meu problema em associar "indicada" com "ganhadora". (Sim, perceber no contexto que eram sinônimos foi bem difícil.)
Na verdade, ainda estou com medo de não ser bem o que eu estou pensando.
Passado o meu desespero padrão e a minha neurose absurda, tão típicos de mim, voltamos ao selo. É um dourado bonitinho que eu pretendo por no meu blog, bem ali na coluna da direita. Assim que eu descobrir como se mexe no Blogger e como se põe selos aqui. (Eu tenho problemas com isto aqui. Tá vendo aquele marcador vermelho ali? Eu demorei mais de uma semana para aprender a colocá-lo no lugar.)
Além de poder exibir o selo, eu devo indicar mais quatro blogs que eu acho merecedores. A minha lista foi bem difícil de ser montada, e ficou, por fim, assim:
1) O Fio da Navalha
Blog do Vitor, que escreve muitíssimo bem. Com certeza, merece a visita.
Mais um selo para a sua lista, primo. (;
2) Devaneios
Blog da Juliana. Escreve de um jeito que eu acho bem particular. Muito bom também.
Só não vou falar meu parentesco com ela também pra não parecer marmelada. (=
3) você cometeu um engano
Um blog bem original e tranquilo de ler.
A Noelle escreve muito bem.
4) [ blame it on candy ]
Um blog muito legal, que merece o selo e que eu acho parecidinho com o meu. Ou seja, uma beleza. Hahaha. (=
Os indicados devem seguir as seguintes regras:
1) Precisam exibi-lo no site, com o link de quem o votou.
2) Devem indicar mais quatro outros blogs que merecem tal selo.
3) Avise aos indicados do prêmio.
4) Os blogs premiados devem ser conferidos, para ver se passaram o selo.
Quando eu li no Pictorescos que eu tinha sido indicada, pensei em mil coisas, quase todas ruins. Coisas essas sempre relacionadas ao meu problema em associar "indicada" com "ganhadora". (Sim, perceber no contexto que eram sinônimos foi bem difícil.)
Na verdade, ainda estou com medo de não ser bem o que eu estou pensando.
Passado o meu desespero padrão e a minha neurose absurda, tão típicos de mim, voltamos ao selo. É um dourado bonitinho que eu pretendo por no meu blog, bem ali na coluna da direita. Assim que eu descobrir como se mexe no Blogger e como se põe selos aqui. (Eu tenho problemas com isto aqui. Tá vendo aquele marcador vermelho ali? Eu demorei mais de uma semana para aprender a colocá-lo no lugar.)
Além de poder exibir o selo, eu devo indicar mais quatro blogs que eu acho merecedores. A minha lista foi bem difícil de ser montada, e ficou, por fim, assim:
1) O Fio da Navalha
Blog do Vitor, que escreve muitíssimo bem. Com certeza, merece a visita.
Mais um selo para a sua lista, primo. (;
2) Devaneios
Blog da Juliana. Escreve de um jeito que eu acho bem particular. Muito bom também.
Só não vou falar meu parentesco com ela também pra não parecer marmelada. (=
3) você cometeu um engano
Um blog bem original e tranquilo de ler.
A Noelle escreve muito bem.
4) [ blame it on candy ]
Um blog muito legal, que merece o selo e que eu acho parecidinho com o meu. Ou seja, uma beleza. Hahaha. (=
Os indicados devem seguir as seguintes regras:
1) Precisam exibi-lo no site, com o link de quem o votou.
2) Devem indicar mais quatro outros blogs que merecem tal selo.
3) Avise aos indicados do prêmio.
4) Os blogs premiados devem ser conferidos, para ver se passaram o selo.
Espero que gostem do selo, e obrigada, Calixto, pelo reconhecimento. (;
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Físico
É físico. Sobre aquilo que machuca, que arde, que fere, que sente, que dói. É físico e dói. Não dá pra ver, mas dói. É sobre aquilo que passa, que passou e que virá. Sobre o real e irrisório destino imprevisível. Esperado, mas não previsível. Sobre o por do sol no alto da colina, sobre o abraço de despedida, sobre o amor no último instante. Sobre a dor real, invisível e física, que machuca, arde, fere, sente e dói. Sobre a dor de verdade, sobre o amor de verdade, sobre a história de verdade. No fim de tudo, sobre a verdade, e a verdade vista de cima.
E de cima somos olhados, assistidos, aplaudidos, corrigidos e amados.
De cima, a vista é sempre melhor.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
A Peça
E por todo o tempo, todo o tempo que eu estive por lá, a única coisa que eu conseguia pensar era se valeria a pena. Se seria verdade, ilusão, mentira, falsidade, paixão. Ainda que fosse puramente por atração sexual, continuava me perguntando se todo aquele jogo de poder iria dar em algo. Se nos achariam, descobririam, nos matariam, condenariam, e outras centenas de hipóteses, todas completamente surreais e absurdas. Poderiam, sim, me julgar como quisessem, mas seria algo que não mudaria absolutamente nada. A importância do julgamento alheio é algo tão importante como o é o próprio. Se tudo aquilo foi em vão, então que vã fosse nossa densa caçada obscura. Por caminhos tão longos contínuos, nada muda afinal. O filme continua, gravado e regravado por anos. Troca-se os atores, mas não os personagens. Tudo continuava como antes, eu era só a peça.
Obrigada pelos comentários no último post, Igor, Juliana e Calixto. Não sabia que vocês gostavam tanto daqui. (=
Obrigada pelos comentários no último post, Igor, Juliana e Calixto. Não sabia que vocês gostavam tanto daqui. (=
quarta-feira, 29 de julho de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
02 .
Mentira era dizer sem saber. O sorriso franco brilhava a luz da noite, e eu acreditava, tola.
Idiota gritava, bradava. Era brincadeira, e minha noite foi embora. Embaixo, a luz da lua. A luz da noite.
Idiota gritava, bradava. Era brincadeira, e minha noite foi embora. Embaixo, a luz da lua. A luz da noite.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
01 .
Depois, a gente percebe que "pra sempre" não é uma promessa.
É uma verdade, além das palavras. Porque estas voam como o vento pra longe, e podem não significar nada. O que fica é só o sentimento por trás, que se faz atemporal.
De volta. (:
É uma verdade, além das palavras. Porque estas voam como o vento pra longe, e podem não significar nada. O que fica é só o sentimento por trás, que se faz atemporal.
De volta. (:
terça-feira, 9 de junho de 2009
Tinta Fresca
I can hear it callin' me back home...
Em uma época tão quente assim, não era de se espantar que enlouquecesse. Não era de se espantar que fosse esperar para enlouquecer. Não era novidade. O mundo dançava ao contrário, e molhava a tela. A tinta vermelha escorria sangue, manchando o céu azul, manchando o mar azul. Manchando a sombra da árvore, e manchando tudo mais a tinta vermelha escorria, e manchava e sujava e escondia aquele mundo de vermelho. Em um tempo tão quente, não era estranho que fossem como era. Não era de se estranhar que a loucura interior nos fizesse dançar, que nos consumisse por inteiro, que nos apagasse, ponto a ponto, como a tinta que ainda borra o quadro na sala.
Ainda escorria sangue, e por aqui ainda pingava do teto. Ainda escorria, e manchava e sujava. Ainda era sujo por aqui, naquela tela fresca de calor. Mas já não tinha tinta fresca por aqui.
Em uma época tão quente assim, não era de se espantar que enlouquecesse. Não era de se espantar que fosse esperar para enlouquecer. Não era novidade. O mundo dançava ao contrário, e molhava a tela. A tinta vermelha escorria sangue, manchando o céu azul, manchando o mar azul. Manchando a sombra da árvore, e manchando tudo mais a tinta vermelha escorria, e manchava e sujava e escondia aquele mundo de vermelho. Em um tempo tão quente, não era estranho que fossem como era. Não era de se estranhar que a loucura interior nos fizesse dançar, que nos consumisse por inteiro, que nos apagasse, ponto a ponto, como a tinta que ainda borra o quadro na sala.
Ainda escorria sangue, e por aqui ainda pingava do teto. Ainda escorria, e manchava e sujava. Ainda era sujo por aqui, naquela tela fresca de calor. Mas já não tinha tinta fresca por aqui.
sábado, 30 de maio de 2009
Remendado
Deveria me castigar, e ninguém irá saber. Chamar-te para sair, eu te devo uma. Nossa história de amor inacabada, maltratada. Tenho certeza que ainda guarda ela, nos confins dos seus amores. Seríamos mais que isto, seremos ainda maiores. Nunca saberás o quanto te quero, nos confins dos meus amores. Ainda teremos uma história. Ainda te devo uma. Meu amor inocente, sem a malícia atraente, ainda sinto teu abraço em mim. Pois que ainda espero aquela festa, que ficou de me levar.
Teríamos sido grandes. Teríamos sido amantes, o que o tempo ainda não apagou de mim
Escrito em 18/01/2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Bobeira
Naquela manhã, o sol se escondeu. As nuvens pesadas me lembraram de todas aquelas coisas conversadas na noite anterior. Ainda tinha as marcas na cama. Ainda tinha minhas marcas nos pulsos. O vento me abraçava, e corria embora. Ia embora. Assim como alguém que deixa tudo, o vento ia embora. Ia embora para os braços de mais alguém. Desta vez já não existia contraste pela janela, e o azul se transformava em escuridão. Pesava o ar por todo o ambiente, era difícil respirar. Ainda tinha marcas em todo lugar. Ainda tinha vida, a vida que fugiu e foi embora. Ainda tinha alguém no meio do quarto. Ainda tinha a vida, por todos os cantos do quarto. Ainda tinha alguém.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Prazer
- O cheiro era ruim. Era cheiro de xixi, de gente, de fedor. Não aguentavam muito tempo por ali, e dava preguiça pensar. Naquilo tudo que eu li, eu não achei nada demais. Naquilo tudo que eu vi, nada me tocou. E eu não me importo de continuar o jantar.
- O carro fez barulho, reclamaram do buraco. Um palavrão compreensível. Pois que a música é boa, então nada se ouve. Nada se ouve, nada se vê. O mundo lá fora gira, mas aqui, conservamos nosso ar. Tudo fechado, isolado. Pois que nada se ouve, e a música é boa. Pois que a música é boa, conservamos nosso ar.
- Cada vez mais alto, lá dentro parece de dia. Não dá pra ver o dia passar. Cada vez mais alto, cada vez mais caro. Tanta luz que cega, e é tanta inveja que cega. Tanta gente disfarçada de gente, tanta solidão. É um vazio imenso, é tudo muito gelado. Hipocrisia, mentira, gente assim. Licensa, mas eu evito.
- Prazer da classe média. Prazer; mas ora, que prazer? Prazer de comprar, como assim? Como assim, que prazer? Prazer, ora. Prazer.
- O carro fez barulho, reclamaram do buraco. Um palavrão compreensível. Pois que a música é boa, então nada se ouve. Nada se ouve, nada se vê. O mundo lá fora gira, mas aqui, conservamos nosso ar. Tudo fechado, isolado. Pois que nada se ouve, e a música é boa. Pois que a música é boa, conservamos nosso ar.
- Cada vez mais alto, lá dentro parece de dia. Não dá pra ver o dia passar. Cada vez mais alto, cada vez mais caro. Tanta luz que cega, e é tanta inveja que cega. Tanta gente disfarçada de gente, tanta solidão. É um vazio imenso, é tudo muito gelado. Hipocrisia, mentira, gente assim. Licensa, mas eu evito.
- Prazer da classe média. Prazer; mas ora, que prazer? Prazer de comprar, como assim? Como assim, que prazer? Prazer, ora. Prazer.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Barroco II
Aqui, bem aqui, eu não me sinto bem. Talvez isso seja uma característica minha, mas hoje eu não me sinto bem aqui. Aquele rosto zangado, aquela expressão indiferente, e eu nem sei ao certo o que foi que eu fiz. Eu não sei se foi algo que eu fiz, que eu falei, ou talvez que eu não tenha falado. Eu não menti, não fui falsa, não aceitei a verdade e lutei contra ela. E agora o que eu recebo é um rosto contrariado, como se eu tivesse feito algo de errado. E eu também não vejo problema algum em pedir cinco minutos. Cinco minutos não são nada. Cinco minutos fazem a diferença. Se cinco minutos é o que eu te peço, cinco minutos não mudam nada. Talvez não existissem cinco minutos para me darem. Talvez cinco minutos estivessem além de mim. Talvez. Talvez.
Talvez o que eu vejo hoje, o que eu tenho visto ou o que eu vi, não passam de um sonho, uma brincadeira sem graça, sem graça para mim. Ou talvez não. Talvez não seja nada além de um encontro de dois inconsequentes que ainda se procuram incessantemente. Talvez. Talvez isso tudo ainda seja mais profundo do que aparenta ser. Talvez ainda exista o tudo e o nada, e talvez eu ainda esteja no meio por ali.
Talvez é bem barroco. Barroco, profundo, sincero.
Barroco, exatamente assim.
Talvez o que eu vejo hoje, o que eu tenho visto ou o que eu vi, não passam de um sonho, uma brincadeira sem graça, sem graça para mim. Ou talvez não. Talvez não seja nada além de um encontro de dois inconsequentes que ainda se procuram incessantemente. Talvez. Talvez isso tudo ainda seja mais profundo do que aparenta ser. Talvez ainda exista o tudo e o nada, e talvez eu ainda esteja no meio por ali.
Talvez é bem barroco. Barroco, profundo, sincero.
Barroco, exatamente assim.
sábado, 9 de maio de 2009
Confiança
Sem conversas, elas são desnecessárias esta noite. Abraça-me, me puxa, dança comigo. Não precisa me convencer que eu já estou convencida. Não precisa pensar em errar, pois eu já errei por nós dois. E tampouco precisa negar, é comum acontecer isto comigo. Eu sei que você gostou de mim. E eu sei que sou irresponsável e imatura, mas eu não me importo. Eu não gosto da culpa que pessoas responsáveis provam. Eu não gosto do amargo da vida que pessoas adultas sentem. Eu gosto da brincadeira sem graça, do riso idiota. Eu gosto de machucar, de mentir, enganar. Eu gosto de fingir dançar com você. E fingir eu faço muito bem. Eu gostei de você, e é por isso que eu te faço acreditar que você tem as rédeas do jogo, quando foi eu quem te deu todas as cartas na mão. Eu controlo a situação, controlo o ambiente. Porque eu gosto do controle, e gosto de fingir dançar com você.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Ódio.
Esse meu ódio é o veneno que eu tomo querendo que o outro morra.
Eu explodia por dentro, perdia o controle. Perdia o meu controle e já não podia mais responder por mim. O vinho que me esquentava era o mesmo que me encorajava. Só aquela presença asquerosa já me irritava.
Ali era o meu quintal, o meu lugar. Que fiquem estabelecidos os limites, é melhor assim. Eu tenho um exército forte e uma mente insana, completamente insana. Não tenho mais sangue escorrendo pelo meu rosto, tampouco pelas minhas mãos, mas também tenho minhas armas. Não faço mídia da minha carne, nem da dor imposta a ela. Eu fico calada, porque assim eu ganho mais. Se for a guerra o procurado, então que guerreado seja. Meus medos são ilegíveis, eles ficam todos em casa. Eu me fecho, ergo a minha muralha, e então eu estou pronta para qualquer coisa.
A bebida barata subia a cabeça, fazia efeito além do esperado, deixando o ambiente turvo, confuso. O meu objetivo bem a minha frente, como se nada acontecesse. Sem escândalo, eu começava a cavar nosso buraco, nossa derrota paralela. Eu já não jogo mais com a falsidade, mas a surpresa é sempre decisiva.
Ali era o meu quintal, o meu lugar. Que fiquem estabelecidos os limites, é melhor assim. Eu tenho um exército forte e uma mente insana, completamente insana. Não tenho mais sangue escorrendo pelo meu rosto, tampouco pelas minhas mãos, mas também tenho minhas armas. Não faço mídia da minha carne, nem da dor imposta a ela. Eu fico calada, porque assim eu ganho mais. Se for a guerra o procurado, então que guerreado seja. Meus medos são ilegíveis, eles ficam todos em casa. Eu me fecho, ergo a minha muralha, e então eu estou pronta para qualquer coisa.
A bebida barata subia a cabeça, fazia efeito além do esperado, deixando o ambiente turvo, confuso. O meu objetivo bem a minha frente, como se nada acontecesse. Sem escândalo, eu começava a cavar nosso buraco, nossa derrota paralela. Eu já não jogo mais com a falsidade, mas a surpresa é sempre decisiva.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Você já brincou de mês?
Daqui há exatamente 24 horas, Abril se despede de nós.
Além das nuvens do fim de Abril, tem sempre um pouco de sol, que vagamente dá para ver, começando a nos mostrar as manhãs de Maio. Amanhã eu vou esquentar no último dia de sol nesse mês ridículo que foi Abril. Vou assistir as últimas árvores que ainda dormem, esperando por Maio para salvá-las da loucura. Amanhã vai ser possível sentir a névoa pesada do quarto mês deixar nossa noite e ir embora.
Vai começar Maio, e eu vou pensar no que eu vou fazer no meu aniversário, no presente que eu vou comprar para a minha mãe e em quantas promoções eu vou conseguir participar em 31 dias. Maio não é que nem Abril, nunca é. Maio é expressivo, é alegre, e a minha primeira amiga, amiga de verdade, fazia aniversário dia 05 de Maio. Eu sei, não tem nada a ver, mas eu lembro a data do aniversário dela quando ela fazia seis anos, e eu acho isso incrível.
Confesso que Maio me assusta um pouco. É o mês anterior a Junho, do meu aniversário, então é sempre o meu último antes de ganhar idade. Por exemplo, agora vai ser o meu último com 15 anos. Isso me assusta profundamente. Crescer, deixar minha adolescência, ficar responsável são coisas que sempre vem com o aniversário. Fora a festa e os votos, não gosto de aniversários. Não os meus.
Mas ainda assim Maio vale a pena. Talvez não por si, mas por ser sucessor de um mês depressivo, que já trás um nome cabisbaixo. Abril é um mês chato e sem graça. Eu não gostaria se tivesse nascido em Abril. Se alguém que nasceu em Abril ler isto, me desculpe, mas é verdade. De tão leve, o mês consegue ser pesado. De tão limpo, chega a ser sujo. De tão insosso, chega a ser irritante. Então vem Maio, com sua aparência de renovação. Qualquer um que viesse depois pareceria bonito, é lógico.
Maio é outono quase inverno, mas por aqui a gente não tem inverno, e o outono é indefinível. Então Maio fica como um mês-surpresa. Não dá pra saber qual o tempo de amanhã. Abril também é assim, mas é diferente. Em Abril, é sempre com cara de chuva. Em Maio, é sempre ensolarado.
Além das nuvens do fim de Abril, tem sempre um pouco de sol, que vagamente dá para ver, começando a nos mostrar as manhãs de Maio. Amanhã eu vou esquentar no último dia de sol nesse mês ridículo que foi Abril. Vou assistir as últimas árvores que ainda dormem, esperando por Maio para salvá-las da loucura. Amanhã vai ser possível sentir a névoa pesada do quarto mês deixar nossa noite e ir embora.
Vai começar Maio, e eu vou pensar no que eu vou fazer no meu aniversário, no presente que eu vou comprar para a minha mãe e em quantas promoções eu vou conseguir participar em 31 dias. Maio não é que nem Abril, nunca é. Maio é expressivo, é alegre, e a minha primeira amiga, amiga de verdade, fazia aniversário dia 05 de Maio. Eu sei, não tem nada a ver, mas eu lembro a data do aniversário dela quando ela fazia seis anos, e eu acho isso incrível.
Confesso que Maio me assusta um pouco. É o mês anterior a Junho, do meu aniversário, então é sempre o meu último antes de ganhar idade. Por exemplo, agora vai ser o meu último com 15 anos. Isso me assusta profundamente. Crescer, deixar minha adolescência, ficar responsável são coisas que sempre vem com o aniversário. Fora a festa e os votos, não gosto de aniversários. Não os meus.
Mas ainda assim Maio vale a pena. Talvez não por si, mas por ser sucessor de um mês depressivo, que já trás um nome cabisbaixo. Abril é um mês chato e sem graça. Eu não gostaria se tivesse nascido em Abril. Se alguém que nasceu em Abril ler isto, me desculpe, mas é verdade. De tão leve, o mês consegue ser pesado. De tão limpo, chega a ser sujo. De tão insosso, chega a ser irritante. Então vem Maio, com sua aparência de renovação. Qualquer um que viesse depois pareceria bonito, é lógico.
Maio é outono quase inverno, mas por aqui a gente não tem inverno, e o outono é indefinível. Então Maio fica como um mês-surpresa. Não dá pra saber qual o tempo de amanhã. Abril também é assim, mas é diferente. Em Abril, é sempre com cara de chuva. Em Maio, é sempre ensolarado.
sábado, 25 de abril de 2009
Pretérito, Futuro do Presente
So you think you can love me and leave me to die? Oh, baby - can't do this to me, baby.
Apesar de ser verdade, eu não poderia, sem dor, o admitir. Eu ainda via nas águas puras, nas palavras duras, a verdade que tão logo foi deixada para trás. Eu sei que em breve eu já não poderia mais transparecer, e este tempo começava a chegar. Tampouco eu sei que a minha memória é nada confiável, e tenho medo, profundos medos, das peças que ela pode me pregar. Tenho medo das pequenas partes, dos dias sem nuvens, pois me agrada a tormenta dos céus naquela vasta briga de formas. Pois me agrada, como, olhar o céu, bonito ou feio. Encontro a mim por ali, pois sei que nada me escapa ao céu, pois sei que ao todo tenho, e o tenho como para mim, sem divisões. Tudo já parece ser como é, e eu já sei do erro, mas não me assusta mais tanto. Mas já não importa tanto, pois eu tenho o céu. É um céu feio, sujo e com nuvens. Pesadas e grossas, nuvens escuras de chuva.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Des-
Fechava os olhos de leve, enquanto a dor voltava. Seu sangue congelava, parava. O mundo girava cada vez mais forte. Buscava apoio, alguém que pudesse lhe salvar.
De longe, assistia sua vida. Carregava nas costas a dor abatida. Vivia para o mundo, e de leve morria. Sua vida saía pela sua boca ao sussurrar. Levava consigo o gosto amargo coisas. Deitava na cova, de leve, sem notar.
Idéia original de Marina Camargo e Rafaela Ramos.
De longe, assistia sua vida. Carregava nas costas a dor abatida. Vivia para o mundo, e de leve morria. Sua vida saía pela sua boca ao sussurrar. Levava consigo o gosto amargo coisas. Deitava na cova, de leve, sem notar.
Idéia original de Marina Camargo e Rafaela Ramos.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Amor.
É a verdade incontestável perante os deuses, é a divina dor. Da carne faz-se o pecado, sob o puro cheiro da flor, tão logo desejado. Une-se no divino o certo e o verdadeiro, o oculto e o misterioso. É entregue o cálice dos corpos, o beijo no toque, as inconfundíveis notas do amor.
Era verdade que amava. Por mais profundo ou surreal que aquilo parecesse, amava além dos limites terrenos. Mas não amava de forma simples e comum. Amava intensamente, desesperadamente. Era verdadeiro, pulsante, real. Era palpável, pois cada vez que sentia o toque das mãos, sentia o calor queimar por todo o corpo. Era ardente como brasa, e lhe ardia todo o corpo, e lhe fazia doer as vísceras do abdômen, e a fazia se deitar sem forças para levantar. Amava, simplesmente, até o mais profundo ponto do corpo, além da alma ou da vida. Via o amor em dimensões paralelas, e já não via rosto bonito ou feio, passou a olhar por dentro. No brilho do sol só havia luz, e nas palavras modestas, a doçura de uma vida. Encontrara em si o elo perdido em seus mundos tão vagos. Viera ao mundo embrulhada em amor, e agora nunca mais deixaria de ser.
Era verdade que amava. Por mais profundo ou surreal que aquilo parecesse, amava além dos limites terrenos. Mas não amava de forma simples e comum. Amava intensamente, desesperadamente. Era verdadeiro, pulsante, real. Era palpável, pois cada vez que sentia o toque das mãos, sentia o calor queimar por todo o corpo. Era ardente como brasa, e lhe ardia todo o corpo, e lhe fazia doer as vísceras do abdômen, e a fazia se deitar sem forças para levantar. Amava, simplesmente, até o mais profundo ponto do corpo, além da alma ou da vida. Via o amor em dimensões paralelas, e já não via rosto bonito ou feio, passou a olhar por dentro. No brilho do sol só havia luz, e nas palavras modestas, a doçura de uma vida. Encontrara em si o elo perdido em seus mundos tão vagos. Viera ao mundo embrulhada em amor, e agora nunca mais deixaria de ser.
sábado, 11 de abril de 2009
Hoje
Eu quero falar sobre a vida, mas não sei se eu já estou forte para isto. Queria escrever algo realmente bonito, porque hoje eu acordei assim, com vontade de escrever. É algo novo. Desde uns dias que eu passo longe de qualquer coisa que desperte isto em mim. Mas hoje, não. Hoje o dia estava brilhando, o sol estava forte, a cidade estava cheia. Hoje eu saí de casa sorrindo, e faz uns dias que eu não faço isto. Mas não hoje.
Hoje, eu sei que a vida ensina, e eu aprendi com ela. Aprendi o valor das pessoas, o peso da dor, o calor de um abraço. Aprendi que, sim, a vida é curta, e, quem diria, amanhã realmente pode ser tarde. Mas não hoje. Hoje eu acordei feliz, porque hoje eu sei que quem não está aqui, está melhor do que eu, e hoje eu percebi que o "para sempre" não é para sempre. "Para sempre" vai até aonde o sempre acabar. Então, te pergunto, aonde termina o teu sempre?
Estou falando de um "para sempre" meu particular, que me disseram uma vez, e que hoje é de extrema importância para mim. Um amigo muito importante me falou isto, e eu não sei se ele sabe o quanto é importante, ele e o nosso "pra sempre". Mas, hoje, eu sei que este "para sempre" é para sempre, porque nós o fizemos assim. Não tem limites nem fim.
Mas hoje o dia acordou bonito, e eu acabei falando de "para sempre". Na verdade, raras vezes eu pensei em algo diferente esta semana. Mas não hoje. Ainda que eu pense no mesmo assunto, e na mesma pessoa, hoje eu o faço sem lágrimas, e isto é novo, pois desde alguns dias eu não o faço. Hoje, eu não sei se estou forte, mas sei que a fraqueza não ajuda ninguém, e que só forte eu vou poder ajudá-lo. Hoje, o dia amanheceu forte, claro, brilhante, e justo hoje eu acordei assim. Hoje o dia é diferente, porque hoje eu acredito no nosso "para sempre", e hoje, o sol brilha diferente. E isto é algo novo para mim.
Se Eu Morrer Antes de Você
Se eu morrer antes de você, faça-me um favor: Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo.
Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase:
"Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!"
Aí, então, derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu.
Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente,vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele.
Você acredita nessas coisas?
Então ore para que nós vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Mas, se eu morrer antes de você, acho que não vou estranhar o céu.
Ser seu amigo já é um pedaço dele.
Chico Xavier
Para os meus amigos, enquanto é cedo.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Imortalidade
A morte não é o fim.
Criado para a vida, o espírito transfere-se constantemente de um estado vibratório para outro, sem perder a imortalidade. Repare nos exemplos da natureza.
A destruição da semente em contato com o solo não passa de transformação da vida gerando mais vida.
O Sol, que se oculta com a chegada da noite, ressurge a cada amanhecer, sem jamais deixar de brilhar.
Se te ressentes da ausência do afeto que a desencarnação transferiu para a vida no além, não te revoltes nem te desesperes.
Corações amáveis o acompanham, tanto quanto a ti, afim de que a vida de cada um siga em paz na direção do progresso.
Confia no Pai e prossegue vivendo, fazendo o melhor ao teu alcance. A felicidade de quem segue no além, muitas vezes, depende do equilíbrio de quem permanece na Terra. Entrega-te ao trabalho construtivo, orando e servindo e contarás com os eflúvios da luz e paz que convertem do alto, favorecendo-te na jornada redentora, até que te reencontres com os corações queridos, em comunhão de amor nos domínios da eternidade.
Criado para a vida, o espírito transfere-se constantemente de um estado vibratório para outro, sem perder a imortalidade. Repare nos exemplos da natureza.
A destruição da semente em contato com o solo não passa de transformação da vida gerando mais vida.
O Sol, que se oculta com a chegada da noite, ressurge a cada amanhecer, sem jamais deixar de brilhar.
Se te ressentes da ausência do afeto que a desencarnação transferiu para a vida no além, não te revoltes nem te desesperes.
Corações amáveis o acompanham, tanto quanto a ti, afim de que a vida de cada um siga em paz na direção do progresso.
Confia no Pai e prossegue vivendo, fazendo o melhor ao teu alcance. A felicidade de quem segue no além, muitas vezes, depende do equilíbrio de quem permanece na Terra. Entrega-te ao trabalho construtivo, orando e servindo e contarás com os eflúvios da luz e paz que convertem do alto, favorecendo-te na jornada redentora, até que te reencontres com os corações queridos, em comunhão de amor nos domínios da eternidade.
Irmão José - Do livro Vigiai e Orai
Meu amigo, vai com Deus. Você já faz falta, mas eu sei que a gente ainda vai se ver de novo, muitas outras vezes. Eu te amo, amigo. Pra sempre.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Era um final pronto
Eu sentei e fiz meu conto de fadas. A postura correta, a coluna ereta. As mãos correm hábeis pelo teclado, e eu já não sei mais escrever no papel.
A minha letra corriqueira estragou minha poesia. O meu papel amassou abaixo da carteira. As cortinas corriam lado a lado, fazendo barulho, e eu enlouquecia. O papel amassava, eu enlouquecia. A lua murmurava, eu enlouquecia. O barulho, barulho, cantava tanto lá fora, eu não sei porque eu não posso acompanhar. A minha meta já está pronta, eu só quero alguém para me libertar. A minha história já está pronta, e eu enlouquecia. É a fase, eu sei, porque agora eu fico assim. Mas alguém não acredita em mim. O canto dos pássaros, o trilho da cortina. O trilho da cortina, lado a lado. Corria, lado a lado. Eu gritava, ninguém ouvia. Eu gritava, enlouquecia. A coluna certa, a postura ereta. Corria, lado a lado. Eu precisava, enlouquecia. A poesia saía torta, eu já não sei mais aonde procurar. Não, eu não enlouquecia, pois agora já passou. Minhas mãos correm fortes pelo papel, aonde eu ainda procuro paz. A cortina voltou a correr. A cortina voltou a correr. Lado a lado, eu enlouquecia.
Lado a lado, eu enlouquecia.
Íssima
Pergunto-me ainda mais por que a distância, o orgulho e as barreiras. Por que, sinceramente, elas não levam a lugar nenhum.
Acima dos carros e dos barulhos da cidade, a ópera cantava a canção à meia-noite. Era só bonita, mas não bastava para ouvir. Fazia sons demais enquanto eu só queria dormir. Eu não me importava com o tipo de vida que me faziam levar. Eu sei que do lado de fora alguém me espera, mas sem o buquê. Aonde foi que eu errei a esquina, aonde foi que eu trucidei o romantismo. E aonde foi que eu disse que amar é meia dúzia de palavras combinadas e plagiadas, ao som da banda avesso da ópera?
Eles tocam tão sereno agora que é impossível não se concentrar. A minha vida inteira está resumida nas notas de alguém que eu não faço ideia do sobrenome. Realmente me pergunto até aonde essa vida miserável vai nos levar. Será que vivemos só de mentiras? Será que vamos realmente acordar para isto um dia? Ou será que o meu erro foi gigantesco de novo? Ou será que eu sempre erro e não foi diferente? Eu vi meus cinco minutos de espera virarem quarenta. E me pergunto principalmente aonde foi exatamente que eu deixei de ser subjetiva para me entregar às palavras diretas. Se isto foi um ato consentido ou só acidente do destino.
A ópera não vai parar tão cedo, com suas bolas e seus tacos rachando sobre a mesa. Eu sei que tenho que abstrair, mas simplesmente não dá quando tudo parece tão longe de mim.
A ópera nunca vai parar de tocar, enquanto a minha verdade, dita tão crua e não correspondida, não for tão verdadeira quanto soou.
Eles tocam tão sereno agora que é impossível não se concentrar. A minha vida inteira está resumida nas notas de alguém que eu não faço ideia do sobrenome. Realmente me pergunto até aonde essa vida miserável vai nos levar. Será que vivemos só de mentiras? Será que vamos realmente acordar para isto um dia? Ou será que o meu erro foi gigantesco de novo? Ou será que eu sempre erro e não foi diferente? Eu vi meus cinco minutos de espera virarem quarenta. E me pergunto principalmente aonde foi exatamente que eu deixei de ser subjetiva para me entregar às palavras diretas. Se isto foi um ato consentido ou só acidente do destino.
A ópera não vai parar tão cedo, com suas bolas e seus tacos rachando sobre a mesa. Eu sei que tenho que abstrair, mas simplesmente não dá quando tudo parece tão longe de mim.
A ópera nunca vai parar de tocar, enquanto a minha verdade, dita tão crua e não correspondida, não for tão verdadeira quanto soou.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Não É Nada Não
Miséria, lástima, bagatela, avareza.
Miserável, como assim.
A rua tinha três postes, dos quais dois estavam queimados. Clichê, é óbvio, mas clichê ainda era original. Não havia ninguém, e talvez seja por isto que você não goste. Particularmente, eu não gostaria de um texto sem personagens, porque eu não gosto de textos que me fazem pensar demais. Isto me faz infeliz. E é exatamente por isto que nesta rua não havia ninguém. As cores frias davam o tom certo de melancolia necessária. Todas as casas mantinham as portas fechadas, e os poucos que abriam as janelas, escondiam o interior com cortinas, iluminadas pela luz da sala. Nas varandas quentes, já não existia mais calor. O mundo deixara aquele lugar para seguir em frente. Não era tão clichê como aparenta, pois não havia cemitérios, nem igrejas ou gente morta. Era normal. Até o limite.
Miserável, como assim.
A rua tinha três postes, dos quais dois estavam queimados. Clichê, é óbvio, mas clichê ainda era original. Não havia ninguém, e talvez seja por isto que você não goste. Particularmente, eu não gostaria de um texto sem personagens, porque eu não gosto de textos que me fazem pensar demais. Isto me faz infeliz. E é exatamente por isto que nesta rua não havia ninguém. As cores frias davam o tom certo de melancolia necessária. Todas as casas mantinham as portas fechadas, e os poucos que abriam as janelas, escondiam o interior com cortinas, iluminadas pela luz da sala. Nas varandas quentes, já não existia mais calor. O mundo deixara aquele lugar para seguir em frente. Não era tão clichê como aparenta, pois não havia cemitérios, nem igrejas ou gente morta. Era normal. Até o limite.
Era um lugar infeliz. Por mais que as pessoas tentassem e sorrissem algumas vezes, era um lugar infeliz. Mas não era infeliz porque era escuro e mórbido. Era escuro e mórbido porque era infeliz. Não havia luz corrente que sobrevivesse, amor que transparecesse, paixão que durasse.
Já não se via paixão ali há muito. Atração, talvez. Mas paixão, não mais.
E a vida se acostumava com a imagem sombria. Como um motorista se acostuma com o semáforo, como você se acostumou com a pobreza ao lado. Incomoda, é claro. Mas não o suficiente para uma atitude direta. As noites quentes nem precisam ser tão quentes assim. Os abraços fortes já não precisam durar tanto. As palavras, que antes eram grandes, já podem ser reduzidas, escondidas, retiradas. A vida vai perdendo espaço, vai morrendo. As cores se desbotam mas ninguém quer repintar as paredes. Aos poucos, tudo que antes era vivo já não o é mais. E assim, a rua morreu, e se fechou do mundo.
Ainda havia vento quando a luz do último poste queimou.
Já não se via paixão ali há muito. Atração, talvez. Mas paixão, não mais.
E a vida se acostumava com a imagem sombria. Como um motorista se acostuma com o semáforo, como você se acostumou com a pobreza ao lado. Incomoda, é claro. Mas não o suficiente para uma atitude direta. As noites quentes nem precisam ser tão quentes assim. Os abraços fortes já não precisam durar tanto. As palavras, que antes eram grandes, já podem ser reduzidas, escondidas, retiradas. A vida vai perdendo espaço, vai morrendo. As cores se desbotam mas ninguém quer repintar as paredes. Aos poucos, tudo que antes era vivo já não o é mais. E assim, a rua morreu, e se fechou do mundo.
Ainda havia vento quando a luz do último poste queimou.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Abaixo
Abaixo, o trem passava rápido sob a estalagem. Fechava de ponta a ponta os trilhos, por cima. Um corredor ligava os quartos mais caros, situados na frente, com vista para a rua, dos quartos mais baratos, com vista para o mato e banheiro coletivo. Em um destes, se encontrava deitada a personagem feminina principal. Uma garota morena, de seios fartos e ancas grandes. O sorriso brilhante se fechava de leve por trás de uma fina camada de lábios, que lhe desenhavam bem o rosto delicado. O cabelo liso repousava do centro da cama até a ponta, e as pernas caídas para fora mal tocavam o chão. Ela sonhava. Sua boca de leve chamava um nome, por repetidas vezes, motivado pela inconsciência bela dos que dormem, e viajam para um outro lugar.
Algum tempo depois - algum tempo incerto, e que não importa realmente - aparece na porta o nome chamado, enrolado em uma toalha barata de algodão e usando chinelos molhados de borracha. O cabelo ainda está úmido do banho, e o peito e as costas, nus, apresentam alguma gotas, que carinhosamente passeiam pela pele masculina, definindo as linhas tênues, já tão bem definidas, que divide todas as suas regiões. A mão forte segura a maçaneta e ele vê, deitada na cama, a desgraça da sua vida. Ela usava ainda a calça jeans da viagem e a velha regata verde da manhã anterior. Seu corpo desenhava suas roupas, e até aquelas, desgastadas, conseguiam parecer bonitas. Mas era impossível para ele não imaginá-la sem elas. Por alguns minutos permanece na porta, de toalha, observando sua garota.
Ainda desnorteado, ele segue para a mala, ao lado da cama e se veste, uma camisa vermelha e uma bermuda preta. Fecha a mala e, desta vez, fica a observar a mala. É forte, dura, de cor vermelha. De carrinho, não é muito grande, com um bolso na frente e um espaço para documentos e pequenas coisas atrás. Era curioso como coubera, às pressas, as coisas de ambos naquela mala tão pequena. Ainda era curiosa que aquela tenha sido a disponível.
A mala não pertencia a ele, tampouco a ela. Não fora emprestada, pois quem cedeu tal não era o dono para o fazer. E quem o fez, não sabia o que fazia realmente. Fora doada a ele, com um propósito desimportante, e que enganaria poucos. Uma vez com a mala em mãos, foi só pegar algumas roupas dos dois e sair daquele lugar para sempre. Dentro desta, ao fundo, havia areia. Areia de um lugar mágico, especial, mas que por algum motivo ele só conhecia por fotos. E a areia ainda tinha o cheiro que ele deixara para trás, e que agora já não podia mais voltar.
Ele se virou e viu, ainda adormecida, sua princesa cristã.
No fundo, doeu-lhe a história inventada, e toda a dor deixada para trás. No fundo, doeu-lhe o sangue da sua Cinderela, e raiva arrebentou suas veias. O trem passou novamente, sacudindo a luz e o prédio. A garota acorda assustada.
- O que foi? - ela pergunta a ele, percebendo suas feições duras.
- Nada. - ele responde. Ele estalou um beijo nela e arrancou suas roupas, pela primeira vez. Ainda tinha raiva, mas isto não mudava nada.
Algum tempo depois - algum tempo incerto, e que não importa realmente - aparece na porta o nome chamado, enrolado em uma toalha barata de algodão e usando chinelos molhados de borracha. O cabelo ainda está úmido do banho, e o peito e as costas, nus, apresentam alguma gotas, que carinhosamente passeiam pela pele masculina, definindo as linhas tênues, já tão bem definidas, que divide todas as suas regiões. A mão forte segura a maçaneta e ele vê, deitada na cama, a desgraça da sua vida. Ela usava ainda a calça jeans da viagem e a velha regata verde da manhã anterior. Seu corpo desenhava suas roupas, e até aquelas, desgastadas, conseguiam parecer bonitas. Mas era impossível para ele não imaginá-la sem elas. Por alguns minutos permanece na porta, de toalha, observando sua garota.
Ainda desnorteado, ele segue para a mala, ao lado da cama e se veste, uma camisa vermelha e uma bermuda preta. Fecha a mala e, desta vez, fica a observar a mala. É forte, dura, de cor vermelha. De carrinho, não é muito grande, com um bolso na frente e um espaço para documentos e pequenas coisas atrás. Era curioso como coubera, às pressas, as coisas de ambos naquela mala tão pequena. Ainda era curiosa que aquela tenha sido a disponível.
A mala não pertencia a ele, tampouco a ela. Não fora emprestada, pois quem cedeu tal não era o dono para o fazer. E quem o fez, não sabia o que fazia realmente. Fora doada a ele, com um propósito desimportante, e que enganaria poucos. Uma vez com a mala em mãos, foi só pegar algumas roupas dos dois e sair daquele lugar para sempre. Dentro desta, ao fundo, havia areia. Areia de um lugar mágico, especial, mas que por algum motivo ele só conhecia por fotos. E a areia ainda tinha o cheiro que ele deixara para trás, e que agora já não podia mais voltar.
Ele se virou e viu, ainda adormecida, sua princesa cristã.
No fundo, doeu-lhe a história inventada, e toda a dor deixada para trás. No fundo, doeu-lhe o sangue da sua Cinderela, e raiva arrebentou suas veias. O trem passou novamente, sacudindo a luz e o prédio. A garota acorda assustada.
- O que foi? - ela pergunta a ele, percebendo suas feições duras.
- Nada. - ele responde. Ele estalou um beijo nela e arrancou suas roupas, pela primeira vez. Ainda tinha raiva, mas isto não mudava nada.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Análise Gráfica
Fugir já não faz mais sentido para lugar nenhum. Se torna sutilmente uma contradição, tão simples e verdadeira. Era para ser uma mentira, e eu vi a verdade com a terra por cima.
Era um meio termo abalado. A dualidade, ou dois contra um, tão constante e tão intensa. A parte publicável é explícita, a definição e a hipocrisia. Eu já falei delas por aqui. É a letra que eu joguei, que erroneamente eu pensei. E a parte impublicável, que eu já falei por aqui muito mais - entre caminhos e coisas boas, há tanto tempo atrás - é próxima, fria, comprometida. Não pode se envolver com assuntos por aqui, não pode se levar. Não quer, ou não sabe se não quer. E mais uma vez eu retorno aos assuntos impublicáveis, tão longe de mim, tão perto por aqui. De tão perto, chega a ser uma covardia, uma crueldade, o excesso escondido, subitamente desmascarado.
Eu fiquei sem reação. Minha cabeça vagando aonde não devia estar. Eu discordei quando devia concordar, e passaram para a próxima letra.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Normalidade Aparente
Quanto se paga pela tiro errado? Quanto se paga pelo tudo e pelo nada? Quanto ainda se paga?
Não é nada do que parece, não é nada do que eu quero. Eu fujo, eu corro, eu me escondo. Mas por algum motivo besta, sempre volta para mim. Eu quero sair desse beco escuro, mas a luz me cega. Eu quero seguir em frente, mas a correnteza me afunda. Eu só quero a normalidade aparente, mas parece pedir muito de repente. Eu não quero demais, eu só não quero a mesma sucessão de erros outrora desaparecidos. Outrora, erros tão aparentes agora, que ainda me acham em qualquer buraco ou quebra de porta, e já não fazem mais parte só de mim. Então o desejo é compartilhado, após longas investidas na madrugada. Então eu faço-me falada, explícita. Eu faço a coisa certa, não erro, não caio pelas frestas. Não me arrependo, não me machuco. Ando com as coisas no trilho, e morro por dentro. Nada disso importa. Cruelmente, normalidade aparente.
terça-feira, 10 de março de 2009
A Tarde
Aprendíamos naquela escola que meninas cavalgam com as pernas de um só lado, e que é feio não saber bordar. Aprendemos naqueles tempo que amor não se possui, e que é coisa de quem não tem o que fazer. Aprendi com aquelas pessoas que o mundo pode ser meu sempre que eu quiser, mas agora que o meu mundo decai e morre, não há ninguém para salvá-lo. Eu me entreguei a vida como tinha de ser, mas agora ninguém me diz o que fazer. Aos poucos, a minha vida saía pelos pulmões, e a cor negra ia perdendo o seu brilho. Eu esperava do sol que se apagasse, que a poeira levantasse, e que eu fugisse dali. Mas nada aconteceu, e todos me traíram. Até a minha lua, que por tanto tempo eu amei, virava as costas para mim, e esconderia aquela noite. Eu olhava todos mas não via rostos. A luz me cegava, e as lágrimas rolavam sem parar. Eu desesperava uma intervenção divina, mas não foi feita. E cada vez, a roda era maior. E cada vez, mais gente se aproximava. E cada vez mais, eu seguia com a minha morte aplaudida, sem pensar ou achar sanidade. Assim, ali, eu morri, com uma salva de palmas.
A luz se apagou mas os olhos não fecharam. Sujava o vestido branco da menina. No colo de sua senhora, ele jazia sob as lágrimas dela.
sexta-feira, 6 de março de 2009
Começo
Vivemos, morremos, nascemos. Acompanhamos nosso tempo, de tempos em tempos, após o cruel jogo de jogos em que nos coloquei. Nós vivemos, e vivemos, no nosso infinito fechado, que há de acabar, e que não nos prepara para o que virá. Não temos substância, nós somos de vidro. Eu te abraço, eu caio, eu morro, eu choro. Eu vivo em teus braços pelo prazer cálido da lua. Eu vivo em teu seio porque me faz assim. Acompanhamos os ciclos, meus e dela, teus e meus. Me recuso a dizer o que quer que seja dito, e me recuso a deixar morrer o que quer que esteja morto. Me recuso a crer que há de acabar, porque me dá vida toda noite. Em teus sonhos fantasiosos, não hei de morrer, não hei de sofrer, não há como acabar.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
A Mocinha
Eram duas irmãs por explicações sociais. A primeira era bela, de corpo invejável e simpatia estonteante. Encantava-se por jardins de tulipas brancas, encantava-se pelo ardor do sol. Encantava a vida passageira. Era musa romântica, era idealizada à noite. Era perfeita, amada, guardada. Chamemos-na de Musa, com sua imagem à perfeição, longe do pecados e do materialismo. Era encantadora. Era ultraromântica
Eis que surge a segunda, e que pena que seja a segunda, pois era real e nada tinha para idealizar. Apesar de menor idade, já apresentava nos seios marcas avançadas, mostras da idade, de um tempo que já começava a castigar. Tinha muitos amores imaginados. Entregava-se aos homens sem pudor ou resquício. Entregava-se, e o fazia de uma vez só. Também era bonita, mas de uma maneira mais exótica. Chamemos-na de Libido, com seus defeitos e vontades, tão diferentes dos buscados por seus amores de mentira.
Cruzam-se os caminhos das jovens meninas, uma mais velha e uma mais prática. Uma bonita e uma de verdade. Liam textos diferentes, sofriam dores diferentes. A primeira, nossa Musa, era burguesa, e cantava à lareira versos para seu rapaz. A segunda, Libido, dançava a noite em ruas transversais, à procura de alguém, à procura de ninguém.
Em uma noite, à mais de meia-noite, em uma taverna cruzam-se as duas, reflexo da outra. A Musa, leve, veste um vestido branco, de gola alta e bainha dançante, no qual se vê, com alguma dificuldade, a leveza e sensualidade de algo entre o tornozelo e as pernas. Seu sapato é ligeiramente alto, seu cabelo é ligeiramente preso. Ela é ligeiramente, toda pequena, Musa idealizada.
Já Libido, voluptuosa, veste um vestido também, mas por aí acabam-se as coincidências das vestimentas. Sua roupa é de cor forte azulada, com um leve decote sobre o peito, no qual se vê a carne acima dos seios fartos. Desce justo pelo corpo, destacando a cintura fina e as cadeiras generosas, com um par de pernas grossas, acabando junto aos joelhos.
Entram juntas na taverna, sentam-se lado a lado, e sem seus copos bebem o frescor da noite da juventude. Uma busca amores, a outra busca verdades. E na vida da outra enxergam-se completas, pela vida de metades.
Pergunta Musa à Libido:
- Então entrega-te aos homens sem esperar por eles sua encomenda?
- Não encomendo nada, pois não espero que me esperem. Não busco nada além do alcanço, e se a meu alcanço está a noite, então é ela que vou ter. - responde Libido, que ainda se põe a perguntar: - Mas tu que encantas homens e os faz pensar, não busca também algum trabalho a dar? Consegues viver somente à base de amar?
- Vivo de amor, pois espero o mundo. E por enquanto não me cansas esperar. No fundo, espero sem saber a quê, pois tenho medo de revelar. Pois como vemos, quem sabe das coisas por aqui é tu, e é a ti que direciono o instante. - responde Musa.
- Busco o amor também, mas nunca consigo alcançá-lo. Talvez por idealizado em ti, não o vêem para mim, e assim sigo com tudo que me resta. Queria também ser amada, além de desejada, mas já não sei mais como faço isto. - diz Libido.
- Eu sou desejada, além de amada, pois para mim faço direcionar o desejo e o amor. Não faço nada sem medida, e sempre medida sou. Serei julgada, e o saberei. Não tenho medo, tenho amor.
- Pois de tanto perder o amor, já me cansei deste tal. Pois não quero mais viver sempre a buscar, e já não sei mais aonde achá-lo, neste vasto campo que me ponho a procurar. Depois de insistidas e jogos corriqueiros, perdi meus pontos neste jogo traiçoeiro. E agora, meu amor se perdeu de mim, e aqui estou à procura de alguém, para apenas outra noite passar.
- Então já amastes e fostes amada? Então não és tão seca quanto aparenta ser. Como podes, após tanta carga, ainda ser mais nova que eu? - pergunta Musa.
- Sim, eu fui amada. Na verdade, não passo de um avanço teu. E todas estas tuas histórias, já as vi uma ou duas vezes. Também sei o gosto do amor, mas sei além deste outros que ainda não sabes. Sei além deste o gosto da perda, da derrota, da traição. Sei o gosto do desejo amado, do amor perdido, da dúvida e da indecisão. Sou tua versão melhorada, tua versão piorada. Avançada, sou tua versão madura. Serás como eu, e também acharás a velha desilusão. Serás como eu, criança, ainda que em idade mais avançada. Tua tinta ainda há de ser um borrão.
Sem pestanejar, levantou-se Libido e deixou o lugar, com seu andar maduro e sólido, de quem já não quer mais nada.
E a minha cabeça rodou por um momento, por um caminho desconhecido até então.
Eis que surge a segunda, e que pena que seja a segunda, pois era real e nada tinha para idealizar. Apesar de menor idade, já apresentava nos seios marcas avançadas, mostras da idade, de um tempo que já começava a castigar. Tinha muitos amores imaginados. Entregava-se aos homens sem pudor ou resquício. Entregava-se, e o fazia de uma vez só. Também era bonita, mas de uma maneira mais exótica. Chamemos-na de Libido, com seus defeitos e vontades, tão diferentes dos buscados por seus amores de mentira.
Cruzam-se os caminhos das jovens meninas, uma mais velha e uma mais prática. Uma bonita e uma de verdade. Liam textos diferentes, sofriam dores diferentes. A primeira, nossa Musa, era burguesa, e cantava à lareira versos para seu rapaz. A segunda, Libido, dançava a noite em ruas transversais, à procura de alguém, à procura de ninguém.
Em uma noite, à mais de meia-noite, em uma taverna cruzam-se as duas, reflexo da outra. A Musa, leve, veste um vestido branco, de gola alta e bainha dançante, no qual se vê, com alguma dificuldade, a leveza e sensualidade de algo entre o tornozelo e as pernas. Seu sapato é ligeiramente alto, seu cabelo é ligeiramente preso. Ela é ligeiramente, toda pequena, Musa idealizada.
Já Libido, voluptuosa, veste um vestido também, mas por aí acabam-se as coincidências das vestimentas. Sua roupa é de cor forte azulada, com um leve decote sobre o peito, no qual se vê a carne acima dos seios fartos. Desce justo pelo corpo, destacando a cintura fina e as cadeiras generosas, com um par de pernas grossas, acabando junto aos joelhos.
Entram juntas na taverna, sentam-se lado a lado, e sem seus copos bebem o frescor da noite da juventude. Uma busca amores, a outra busca verdades. E na vida da outra enxergam-se completas, pela vida de metades.
Pergunta Musa à Libido:
- Então entrega-te aos homens sem esperar por eles sua encomenda?
- Não encomendo nada, pois não espero que me esperem. Não busco nada além do alcanço, e se a meu alcanço está a noite, então é ela que vou ter. - responde Libido, que ainda se põe a perguntar: - Mas tu que encantas homens e os faz pensar, não busca também algum trabalho a dar? Consegues viver somente à base de amar?
- Vivo de amor, pois espero o mundo. E por enquanto não me cansas esperar. No fundo, espero sem saber a quê, pois tenho medo de revelar. Pois como vemos, quem sabe das coisas por aqui é tu, e é a ti que direciono o instante. - responde Musa.
- Busco o amor também, mas nunca consigo alcançá-lo. Talvez por idealizado em ti, não o vêem para mim, e assim sigo com tudo que me resta. Queria também ser amada, além de desejada, mas já não sei mais como faço isto. - diz Libido.
- Eu sou desejada, além de amada, pois para mim faço direcionar o desejo e o amor. Não faço nada sem medida, e sempre medida sou. Serei julgada, e o saberei. Não tenho medo, tenho amor.
- Pois de tanto perder o amor, já me cansei deste tal. Pois não quero mais viver sempre a buscar, e já não sei mais aonde achá-lo, neste vasto campo que me ponho a procurar. Depois de insistidas e jogos corriqueiros, perdi meus pontos neste jogo traiçoeiro. E agora, meu amor se perdeu de mim, e aqui estou à procura de alguém, para apenas outra noite passar.
- Então já amastes e fostes amada? Então não és tão seca quanto aparenta ser. Como podes, após tanta carga, ainda ser mais nova que eu? - pergunta Musa.
- Sim, eu fui amada. Na verdade, não passo de um avanço teu. E todas estas tuas histórias, já as vi uma ou duas vezes. Também sei o gosto do amor, mas sei além deste outros que ainda não sabes. Sei além deste o gosto da perda, da derrota, da traição. Sei o gosto do desejo amado, do amor perdido, da dúvida e da indecisão. Sou tua versão melhorada, tua versão piorada. Avançada, sou tua versão madura. Serás como eu, e também acharás a velha desilusão. Serás como eu, criança, ainda que em idade mais avançada. Tua tinta ainda há de ser um borrão.
Sem pestanejar, levantou-se Libido e deixou o lugar, com seu andar maduro e sólido, de quem já não quer mais nada.
E a minha cabeça rodou por um momento, por um caminho desconhecido até então.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Hipocrisia
Não me venha com hipocrisias sobre quão falsa eu pareço para ti. E não fale mais do meu erro, como se foste perfeito, quando nós sabemos o que acontecera. Errei, e não admito o contrário. Ainda queima meu corpo a ideia antiperfeita consumada. Não me deixarei arrepender, não me deixarei cair pelas escadas. Seria tudo hipocrisia, manual de boas maneiras. Porque eu não sei as regras, ou não sei jogar. Porque eu sigo a minha cartilha, onde não há cartilha, ou alguém para reclamar. Sabemos igualmente o que acontece, mas que guardemos nosso tempo, cada um a sua maneira. Cada uma ao seu instante, importante em seu minuto. Passado distante.
Barroco
Somos uma antítese, uma contradição. Um caminho oposto pelo vértice, uma história sem fim. Somos o começo até aonde vão os nossos limites. Somos barrocos, somos o sim e o não. Barrocos, somos o poder e o não poder. Barrocos, somos eu e você. Somos uma batalha sem fim, barrocos. No fim da linha, eu te espero no fim da festa. Eu te espero sempre no fim. Eu só te espero, assim como você me espera sair daqui. Fazemo-nos noite, pecado, virtude. Fazemo-nos uma antítese, uma contradição. Somos antigos, barrocos. Nunca agimos errados. Somos barrocos, exatamente assim.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Vila
"Vem a Lua de Luanda para iluminar a rua. [...] Vem, menininha, pra dançar o caxambu."
Hoje, me deixa, porque eu não volto para casa antes do sol. Deixa eu ser feliz, deixa a lua me iluminar. Porque só hoje eu sou feliz. Porque eu sou o retrato do meu povo sofrido, porque nós somos gente forte. Vem comigo, porque hoje é dia de festa, meu amor. E hoje a minha gente ganha as ruas. E hoje a gente ganha o mundo. E hoje, o rei da festa é nosso, e ninguém pode contra nós. Ninguém vai parar a nossa festa, ninguém vai ganhar as nossas ruas. Hoje a gente dança, meu amor, como nunca o fizemos. Hoje a gente brilha, na nossa enorme passarela. Porque só por hoje a gente tem a avenida, nosso palco. Porque só hoje nós somos os donos da festa.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Curtinhas
1) Ainda que sempre tivessem se visto, era notória a atração. Não tinham antecedentes criminais, não tinham histórico com drogas. Eram de boas famílias, que prezam a união e a fidelidade. Não tinham nenhum interesse na geografia dos Andes ou na economia do Zimbábue. Na verdade, não tinham o menor interesse em economia. Não precisavam, ainda, pensar em dinheiro, trabalho ou qualquer coisa que tirasse o sono. Poderiam chegar a pensar em uma briga com amigos, em um compromisso esquecido. Essas eram de se tirar o sono. Mas a economia do Zimbábue, certo que não.
2) Não tinham porque não se olhar naquele salão tão amplo. Tinham o mesmo parentesco, certo que se cruzariam. Não tinham nada a perder exceto alguns olhares de reprovação. O diabinho sempre falava mais alto. Era noite fria, apesar do dia quente. Era a dança, mas não importa, ainda. Não tinha mais nada acontecendo. Nada acontece sem permissão. E para sempre se fez durar.
2) Não tinham porque não se olhar naquele salão tão amplo. Tinham o mesmo parentesco, certo que se cruzariam. Não tinham nada a perder exceto alguns olhares de reprovação. O diabinho sempre falava mais alto. Era noite fria, apesar do dia quente. Era a dança, mas não importa, ainda. Não tinha mais nada acontecendo. Nada acontece sem permissão. E para sempre se fez durar.
3) Era uma tarde de março. O tempo estava quente, insuportavelmente. O rio corria seu curso pelas paredes de concreto, passava pela pracinha, cortava a rua ao meio. Dançava perto das meninas, que não tinham realmente nada melhor para fazer. Iluminava a vida na pequena cidade, fadada ao feudalismo contemporâneo. Desce a serra no horário de sempre, e deixa-se uma vida para trás.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Porque Para Mim Pesa Mais
Era uma vez um conto ultraromântico, com bruxas, princesas e cavaleiros. Era uma vez a história contada errada. Era uma vez o papel caído, a folha amassada. Ninguém percebe, mas ela chora também.
É vontade de fugir. Fugir para algum lugar perdido, fugir de alguém para longe. Fugir de mim para sempre. Você já se viu tão mal, sem saída? A história está pelo avesso e vira-se o vilão. Ou a história não está pelo avesso e se é o vilão. O ponto de vista não é outro, é o certo. Então a tua imagem é falha, mas já não há escolha. Agora, só restam as consequências, que não tardam a chegar. Agora se esgota o brilho no olhar. A força de outrora vai embora, se perde pelas nuvens baixas. Não se acha nada, porque não há nada mais para achar. Foram-se todos, a cidade está vazia. Deixaram-te todos, não há mais o teu lugar. Era vontade de fugir, fugiram todos, ainda que ainda ali. Sabiam o lado certo, e não se deixaram levar.
É vontade de fugir. Fugir para algum lugar perdido, fugir de alguém para longe. Fugir de mim para sempre. Você já se viu tão mal, sem saída? A história está pelo avesso e vira-se o vilão. Ou a história não está pelo avesso e se é o vilão. O ponto de vista não é outro, é o certo. Então a tua imagem é falha, mas já não há escolha. Agora, só restam as consequências, que não tardam a chegar. Agora se esgota o brilho no olhar. A força de outrora vai embora, se perde pelas nuvens baixas. Não se acha nada, porque não há nada mais para achar. Foram-se todos, a cidade está vazia. Deixaram-te todos, não há mais o teu lugar. Era vontade de fugir, fugiram todos, ainda que ainda ali. Sabiam o lado certo, e não se deixaram levar.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Obsoleto
Éramos três. A vadia, o fudido e o casal. Não nos conhecíamos, não tínhamos amigos importantes. Nunca conhecemos alguém famoso, nunca aparecemos na televisão. Não fizemos faculdade, não viajamos para o exterior. Somos manipulados pela mídia, não sabemos falar inglês. Por um acidente do destino, fomos postos a um lugar quase comum, em um horário comum de três. Éramos fudidos pela vida, pelo amor, pelo dinheiro. Por motivos pessoais, por motivos internos, emocionais, financeiros e todos aqueles outros que dizem no horóscopo de domingo. Dali, olhávamos os três, nós três. Apesar de tudo, ou por tudo, nossas vidas eram fascinantes. Estávamos apaixonados pela vida dos outros dois. Era interessante, era igual. Exatamente igual, porque no final, caía no mesmo buraco. Éramos três fudidos, igualmente fudidos. Sem diferenças, éramos perfeitamente iguais.
Éramos infelizes, e juntos descobrimos a nossa melancolia líquida. Inundávamos lugares, preenchíamos vazios. Para nós, era necessário a chuva no fim da tarde, o amor amaldiçoado, as juras de mentira. Para nós, é preciso errar e se enganar, confiar em quem não deve. E ganhar, perder, jogar. É necessário vivermos, amarmos, sofrermos. Para o texto sair bonito, para no fim do dia ter algum sentido. É preciso, para nós, um objetivo, um motivo, para ser forte e dizer "Nenhuma lágrima foi derramada".
Éramos os três iguais, amáveis, bonitos. Éramos três fudidos, sem grau ou comparação. Éramos três, nós três, o sentido da contradição.
Éramos infelizes, e juntos descobrimos a nossa melancolia líquida. Inundávamos lugares, preenchíamos vazios. Para nós, era necessário a chuva no fim da tarde, o amor amaldiçoado, as juras de mentira. Para nós, é preciso errar e se enganar, confiar em quem não deve. E ganhar, perder, jogar. É necessário vivermos, amarmos, sofrermos. Para o texto sair bonito, para no fim do dia ter algum sentido. É preciso, para nós, um objetivo, um motivo, para ser forte e dizer "Nenhuma lágrima foi derramada".
Éramos os três iguais, amáveis, bonitos. Éramos três fudidos, sem grau ou comparação. Éramos três, nós três, o sentido da contradição.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
O Momento
O olhar caído, no certo da incerteza do momento. As palavras tocadas, usadas na beleza da expressão.
Era noite. Apesar dos conselhos, avisos e advertências, era visível: elas saíam para a caça. Se arrumavam para tal, com sapatos caros, cintura perfeita, os seios parcialmente a mostra, em um decote singelo e delicado. Eram a prova de que o pecado não só existe mas pode ser consumado. Não havia quem não caísse aos olhos, não fosse seduzido, não se deixasse levar. Não procuravam um amor antigo, paixão ardente, amigo secreto. Acharam amor secreto, paixão antiga e no outro a verdade. Na garganta, a voz sem saída. Era noite, e o sonho real as alimentava. Tentadora, mente que planeja, proibida desde então. Mente tola, que erra o caminho e acerta a direção.
Era noite. Apesar dos conselhos, avisos e advertências, era visível: elas saíam para a caça. Se arrumavam para tal, com sapatos caros, cintura perfeita, os seios parcialmente a mostra, em um decote singelo e delicado. Eram a prova de que o pecado não só existe mas pode ser consumado. Não havia quem não caísse aos olhos, não fosse seduzido, não se deixasse levar. Não procuravam um amor antigo, paixão ardente, amigo secreto. Acharam amor secreto, paixão antiga e no outro a verdade. Na garganta, a voz sem saída. Era noite, e o sonho real as alimentava. Tentadora, mente que planeja, proibida desde então. Mente tola, que erra o caminho e acerta a direção.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Escondido
"No rosto o desgosto, é um pouco sozinho"
Me deixo arfar no consciente obtuso. Com a clareza da manhã. o dia começa e me encanta; eu simplesmente não consigo negar. A evidência do pecado é a mais bonita das gentilezas, puramente humana. Vence a barreira do moralismo caótico, vence todas as barreiras. É levado pelo estímulo, pelo instinto. É animal, e bonito, e vulgar. É supremo como o raiar do sol, o nascer do dia. É a vida, humana ou não, fazendo-se acontecer como deve ser. É a beleza desigual, aonde o céu toca o mar para uma platéia maravilhada. É um lugar de Deus, bonito e puro. É um lugar do pecado, tentador como tal. Une extremos, pueril. Luta a vida remanescente no local. Vira céu o mar , chama de volta. Vira céu o mar, meu lugar.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Fuga de Tema: Posse do Obama
Fugindo do tema do blog, vou falar do assunto do dia: a posse do Obama. Blá, blá, blás à parte, acho que eu não preciso explicar quem ele é.
Hoje eu abri o jornal e, se não fosse pela reportagem em português, eu facilmente confundiria o meu país. Eram bem umas quatro páginas para o Obama. Sim, ele é um presidente negro num país preconceituoso. Realmente, é uma barreira quebrada quanto ao preconceito racial. Mas não deve ser esquecido que ele é americano, e ele nunca seria eleito se não estivesse defendendo os interesses americanos, fosse ele branco, negro, amarelo ou vermelho. Acaba de sair um presidente extremamente impopular, e era lógico que o candidato do partido adversário já começasse com vantagem.
É besteira pensarmos que ele vai salvar o mundo ou melhorar as coisas. Ele é um presidente americano para o povo americano. E isso não tem nada a ver com ser bonzinho com os latinos, africanos ou islâmicos. Na verdade, tem a ver com o contrário. Ele não pode ajudar o mundo todo e se tornar o salvador, já que isto atrapalharia seriamente as empresas do país. Ele não foi eleito por ser negro. Ele foi eleito por ter idéias compatíveis com a política americana, para defender os interesses do seu país, que, se muitos já esqueceram, é algo parecido com ganhar dinheiro apesar de tudo. E não dá para ganhar muito dinheiro ajudando o resto do mundo.
Entre ganhar dinheiro e ajudar o mundo, os Estados Unidos já mostraram há muito a sua posição.
Não é a chegada de um Messias, não é o fim do aquecimento global nem a criação do estado da Palestina. É só mais um presidente americano, com valores americanos, como todos os outros quarenta e três anteriores. Não tem sentido nós torcermos por ele, ou comemorarmos a sua posse. Ele é americano, e só.
Hoje eu abri o jornal e, se não fosse pela reportagem em português, eu facilmente confundiria o meu país. Eram bem umas quatro páginas para o Obama. Sim, ele é um presidente negro num país preconceituoso. Realmente, é uma barreira quebrada quanto ao preconceito racial. Mas não deve ser esquecido que ele é americano, e ele nunca seria eleito se não estivesse defendendo os interesses americanos, fosse ele branco, negro, amarelo ou vermelho. Acaba de sair um presidente extremamente impopular, e era lógico que o candidato do partido adversário já começasse com vantagem.
É besteira pensarmos que ele vai salvar o mundo ou melhorar as coisas. Ele é um presidente americano para o povo americano. E isso não tem nada a ver com ser bonzinho com os latinos, africanos ou islâmicos. Na verdade, tem a ver com o contrário. Ele não pode ajudar o mundo todo e se tornar o salvador, já que isto atrapalharia seriamente as empresas do país. Ele não foi eleito por ser negro. Ele foi eleito por ter idéias compatíveis com a política americana, para defender os interesses do seu país, que, se muitos já esqueceram, é algo parecido com ganhar dinheiro apesar de tudo. E não dá para ganhar muito dinheiro ajudando o resto do mundo.
Entre ganhar dinheiro e ajudar o mundo, os Estados Unidos já mostraram há muito a sua posição.
Não é a chegada de um Messias, não é o fim do aquecimento global nem a criação do estado da Palestina. É só mais um presidente americano, com valores americanos, como todos os outros quarenta e três anteriores. Não tem sentido nós torcermos por ele, ou comemorarmos a sua posse. Ele é americano, e só.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Desejo
O barulho é aterrorizante. Nos fechamos em nosso mundo. O medo se apodera de mim, porém não mais forte do que a vontade, o desejo. O corpo claro e proibido na minha frente me faz esquecer que me esperam lá fora. É quase uma garagem velha, é a nossa suíte agora. Não passa de um banheiro velho e fedorento, que aguenta firmemente após quatro horas de festa. Papel higiênico usado sossega tranquilamente no chão de madeira. Não há ninguém que reconheça meu rosto neste baile de máscaras, diferente do dele, famoso pelos quatro cantos do salão. Sua esposa aguarda em casa, e nós dois sabemos que ela sabe de tudo. Meu parceiro, companheiro, amante não imagina nada disso. E nós dois também sabemos que ele me deve. Atira-me na parede contra a privada, arrancando minha blusa. Beija-me loucamente como se esperasse há muito por isto. Na verdade, há muito mais esperamos por isto. Em silêncio, em segredo. Quando um guardava o desejo do outro escondido sob a maquiagem, sem a necessidade de uma provocação, sem a necessidade de um outro olhar. Nós dois sabíamos exatamente o que acontecia. Mais do que divertido, era perigoso. Desliza a boca em mim, convertendo saliva em suor. E numa épica cena romântica, acha-me escondida, e já não precisamos de mais nada.
A cena continua a mesma. Algumas meninas abandonadas à espera de alguém se sentam longe da vista. A festa segue animada, com todos os nossos conhecidos em comum presentes. Eu o vejo se aproximar do resto do time, ajeitando o cabelo claro de leve. As mãos trêmulas, o amigo entendendo. Seu sorriso me explica, somos cúmplices agora. Viro meu rosto, e lá está meu príncipe mentiroso. Seus amores antigos ocultos sob a fachada. O sorriso mais bonito de todos se vira na minha direção. Me chama, me beija, me abraça. Camadas abaixo, curvas melhores fazem menção. Mas agora eu também tenho meus segredos.
Homens e a Metade em Cigarros
Eu o observava de longe. Não era exatamente o que se pode chamar de "homem". Devia ser meio homem, ou algo perto disto. O tempo todo que eu fiquei a observá-lo, ele não fumou um cigarro sequer. Como ele pode ser um homem sem um cigarro?
Eu costumo avaliar as pessoas pelo cigarro. Quando vem com aqueles cigarros cheios de frescura, eu nem continuo. Sei que não é gente da vida, que não tem nem história para contar. Normalmente, são meninos com o carrinho do papai. Tem aqueles que usam filtro também. Coisa de viado. Ou fuma direito ou não fuma. Ficar de frescura pedindo cigarro com filtro é a maior idiotice que eu já vi. Pior do que cigarro com sabor. Homem que é homem fuma puro, sem filtro, sem sabor. Tem também aqueles que compram o mais caro, cheio de frescura para mostrar para os outros. Aquelas porcarias nem são cigarro, são Sampoerna, e todo mundo sabe que Sampoerna não é cigarro. E eu só fico olhando de longe, rindo sozinho.
Mas esse não. Ele não fumava. Como alguém vem em um bar, às tantas horas da madrugada, e não pede um cigarro? Se ele pedisse algum, ou fingisse que pediu, eu poderia avaliar, dizer para mim mesmo se era boa coisa ou não. Mas nem isso ele fez. E isso me cativou profundamente. Eu tinha que falar com ele.
Sem rodeios, eu cheguei no balcão e perguntei:
- Você não fuma?
Ele olhou para mim, primeiro surpreso, depois ligeiramente ofendido com a pergunta. Olhava diretamente para o meu Carlton, parecia ter medo. A fumaça saía deliciosa, quase irresistível para mim.
- Não. Por quê? - ele perguntou, ainda espantado. Ele se fez mais interessante. Como poderia sentir o cheiro do meu cigarro e dizer, com toda aquela convicção, que não fumava?
- É estranho. Você é o primeiro aqui que não fuma.
- Percebi... - ele falou, olhando em volta, confirmando o que dissera, e virando o rosto, encerrando a conversa.
Eu voltei para a minha mesa, tão confuso quanto antes. Alguém que não fumava... Ele era simplesmente imune ao cigarro. Eu olhei para o meu, entrelaçado ente meus dedos, e dei um último trago. Para acender outro, claro.
Por toda a noite eu fiquei observando o rapaz. Ele era totalmente imune. Não sentia nada, nem felicidade, prazer ou vontade. Pelo contrário, se incomodava com a fumaça. Um senhor se sentou perto dele, fumando um Gudang de menta, e incrivelmente ele se sentiu nauseado e se sentou mais longe.
Foi a cena mais incrivelmente aterrorizante da minha vida.
Naquele momento, o rapaz percebeu a atenção que eu lhe dava e, ocasionalmente, se virava para trás, para ver se eu ainda o observava, de forma discreta. Então eu fiz algo inédito para mim: disfarcei. Quando ele se virava, eu olhava para os lados, fingia que não via, desviava a atenção.
E numa destas, percebi que todo o resto do bar, inclusive eu, fumava. E a maioria fumava cigarro sem filtro ou sabor. Então, fiz-me lúcido, e ele era o homem, e nós, apenas meio homens, ou algo perto disto. Majestosamente, ele ergueu seu copo e tomou um puta gole de cerveja, como se celebrasse a sua conquista de "Homem do Bar". E era cerveja! Não era rum, vodka ou uma caipirinha qualquer. Era cerveja!
Discretamente, eu me levantei e saí do bar, antes que ele percebesse a minha ausência. Lá fora, olhei para o meu Carlton, ainda grande entre meus dedos, e dei uma tragada. Forte, potente, capaz de ser sentida nos lugares mais profundos dos meus pulmões. Ele era o homem. Ele me vencera. Eu nunca mais poderia, pensaria em entrar naquele recinto novamente.
Mas eu não era tão forte. Segui para o próximo bar, ainda fumando meu cigarro.
Eu costumo avaliar as pessoas pelo cigarro. Quando vem com aqueles cigarros cheios de frescura, eu nem continuo. Sei que não é gente da vida, que não tem nem história para contar. Normalmente, são meninos com o carrinho do papai. Tem aqueles que usam filtro também. Coisa de viado. Ou fuma direito ou não fuma. Ficar de frescura pedindo cigarro com filtro é a maior idiotice que eu já vi. Pior do que cigarro com sabor. Homem que é homem fuma puro, sem filtro, sem sabor. Tem também aqueles que compram o mais caro, cheio de frescura para mostrar para os outros. Aquelas porcarias nem são cigarro, são Sampoerna, e todo mundo sabe que Sampoerna não é cigarro. E eu só fico olhando de longe, rindo sozinho.
Mas esse não. Ele não fumava. Como alguém vem em um bar, às tantas horas da madrugada, e não pede um cigarro? Se ele pedisse algum, ou fingisse que pediu, eu poderia avaliar, dizer para mim mesmo se era boa coisa ou não. Mas nem isso ele fez. E isso me cativou profundamente. Eu tinha que falar com ele.
Sem rodeios, eu cheguei no balcão e perguntei:
- Você não fuma?
Ele olhou para mim, primeiro surpreso, depois ligeiramente ofendido com a pergunta. Olhava diretamente para o meu Carlton, parecia ter medo. A fumaça saía deliciosa, quase irresistível para mim.
- Não. Por quê? - ele perguntou, ainda espantado. Ele se fez mais interessante. Como poderia sentir o cheiro do meu cigarro e dizer, com toda aquela convicção, que não fumava?
- É estranho. Você é o primeiro aqui que não fuma.
- Percebi... - ele falou, olhando em volta, confirmando o que dissera, e virando o rosto, encerrando a conversa.
Eu voltei para a minha mesa, tão confuso quanto antes. Alguém que não fumava... Ele era simplesmente imune ao cigarro. Eu olhei para o meu, entrelaçado ente meus dedos, e dei um último trago. Para acender outro, claro.
Por toda a noite eu fiquei observando o rapaz. Ele era totalmente imune. Não sentia nada, nem felicidade, prazer ou vontade. Pelo contrário, se incomodava com a fumaça. Um senhor se sentou perto dele, fumando um Gudang de menta, e incrivelmente ele se sentiu nauseado e se sentou mais longe.
Foi a cena mais incrivelmente aterrorizante da minha vida.
Naquele momento, o rapaz percebeu a atenção que eu lhe dava e, ocasionalmente, se virava para trás, para ver se eu ainda o observava, de forma discreta. Então eu fiz algo inédito para mim: disfarcei. Quando ele se virava, eu olhava para os lados, fingia que não via, desviava a atenção.
E numa destas, percebi que todo o resto do bar, inclusive eu, fumava. E a maioria fumava cigarro sem filtro ou sabor. Então, fiz-me lúcido, e ele era o homem, e nós, apenas meio homens, ou algo perto disto. Majestosamente, ele ergueu seu copo e tomou um puta gole de cerveja, como se celebrasse a sua conquista de "Homem do Bar". E era cerveja! Não era rum, vodka ou uma caipirinha qualquer. Era cerveja!
Discretamente, eu me levantei e saí do bar, antes que ele percebesse a minha ausência. Lá fora, olhei para o meu Carlton, ainda grande entre meus dedos, e dei uma tragada. Forte, potente, capaz de ser sentida nos lugares mais profundos dos meus pulmões. Ele era o homem. Ele me vencera. Eu nunca mais poderia, pensaria em entrar naquele recinto novamente.
Mas eu não era tão forte. Segui para o próximo bar, ainda fumando meu cigarro.
sábado, 17 de janeiro de 2009
Definição
Definição: s. f.; ato de definir; exposição clara, concisa de alguma coisa; significado; determinação; limite.
"Definidas as regras, rolam-se os dados."
Não era amor, nem mesmo sexo, ou alguma luz no limiar das barreiras. Questionava-se se era vivido. A fenda estreitava-se pelo desejo, acima e abaixo, e o que quer que seja. Era indescritível, mas não por ser algo impactante e avassalador, mas por ser algo misterioso e diferente. Pois além do espelho não havia nada, e os restos jaziam lado a lado. O caminho sinuoso escolhido, bonito além da vista, mas perigoso de um jeito silencioso e suave. Secreto, como as curvas do quadril aonde é possível sentir, no mais ínfimo toque, a carne lançando força contra a pele. E mais abaixo a linha tênue se perde em um turbilhão de imagens. Talvez seja esta a definição, como algo insano ou translúcido. Aonde a carne se encontra com a pele. Aonde os corpos se misturam.
Alice
Eu te vejo. Eu te sigo, eu te venero. Desrespeito a tua imagem de marido, esqueço o compromisso, me entrego ao primeiro oficial. Para te deixar na amargura das palavras, na dúvida. Eu me faço invejada, rio na tua cara, enceno o que eu quiser. Porque eu sou falsa, e sei mentir, e minto dizendo que não sei mentir. Porque eu amo e desamo com a velocidade da luz. Me apaixono, me apego, reinvento, sem pena. Eu não tenho pena, não tenho medo. Eu não me arrependo. Eu vivo com a alma e com todo o calor que há nela. Eu me embaraço, eu me perco em mim. E me acho em ti, de braços abertos, de olhos fechados.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Declaração de Amor
Eu não sou como os outros. Tudo eu sinto em dobro. Eu amo em dobro, sofro em dobro, vivo em dobro. Porque toda a minha vida é vivida duas vezes: uma vez na carne e outra no papel. Escrever me fez importante, pelo menos para mim. Eu poderia viver sem água ou ar, mas não sem meu caderno. É mais do que palavras e versos. É paixão, amor, necessidade. Sim, eu necessito escrever. É um vício e eu não posso parar. Eu não quero me curar. Eu nasci para escrever, e isto é visível desde o meu primeiro texto. Eu sou feita de palavras, de poesia, de amor, e aqui, enterrada em meu caderno, eu vivo novamente. Aqui nascem meus amores. Aqui floresce a minha vida.
Irreal
Ele não falava, enrolava, fugia do assunto. Ela reclamava e dizia umas verdades, fingindo não dizer. Pressionavam, delicados, por motivos diferentes. Mas voltavam sempre pelo mesmo caminho.
Aquela noite, o céu era negro. Não havia nenhuma estrela ou risco de Lua. Se misturava ao mar como em uma aquarela. Nada se via no horizonte, como se este não existisse. Um abraço quebrava o silêncio da paisagem, ainda que sem fazer barulho. Não eram necessários sons, o mar já bastava, envergonhado de seu escândalo e de suas ondas nervosas. Uma fogueira, avisando sobre os ritos, ardia sem efeito. O frio reinava apesar do fogo. Uma brisa gelada batia nas costas nuas da garotas, fazendo-se desimportante, uma vez que a garota já tremia. Para sempre ficaram ali, como parte do cenário, até se moverem, lentamente, em um beijo tímido, vil, lascivo.
Se abraçaram novamente, quando a fogueira se apagou. O calor do fogo, pequeno em comparação, já não servia mais.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Makes Me Wonder II
O que é um condenado sem a condenação? Não há pior do que aquela que emana da alma. Não se sente ou culpa. Não há fatores externos. Há um buraco, uma vez que falta algo. Há a consciência, dia após dia, matando, de dentro para fora.
A cabeça pesa na cama
É incrível o poder da verdade,
ainda que somente sobre mim.
Me pergunto se só eu, de todos nós,
posso ouvir o canto dos pássaros.
Ou até quando
insistirei no mesmo assunto,
e ouvirei a mesma música.
Que canta enquanto eu faço
E falo sobre nós,
o que não significa dois.
As formas mais sutis,
e nelas nos camuflo.
Pergunte-me meus assuntos.
Pergunte-me minhas idéias.
A minha parte já foi feita.
Feita em dobro.
O bem e o mal.
Para nunca mais ser lembrada.
Para nunca mais ser esquecida.
Pudera ir com o vento
E nos levar para longe daqui.
Makes Me Wonder
Era um bar. Não um botequim, um bar. Daqueles que a gente vê em filmes antigos, com aquela luz tosca iluminando fracamente o lugar. Na frente do usual piano, uma vitrola tocava Led Zeppelin. Ao corredor, que se estendia paralelo a entrada, um homem com a barba por fazer e a aparência cansada limpava uns copos, sem nenhum sucesso. Apesar da hora, o sol começara a se recolher no céu, o bar já tinha freguês. Uma mulher, a dona do disco que tocava, dançava sozinha no salão pequeno. Até a música acabar, ela faz o seu vestido vermelho balançar pelo ar, com a melancolia da tarde.
A música acaba. Ela para o disco e vai para o piano sem pedir licença, de costas para o bar. Outros fregueses, todos homens, começam a chegar, atraídos pelo vestido. Ela se senta ao piano e começa a introdução conhecida por poucos no bar. Alguns minutos, e ela começa a cantar, com a voz triste, cansada, sobre alguém que está comprando uma escadaria para o paraíso.
Ainda que desconhecida pela maioria, e ainda que todos tenham vindo pela moça, a clientela começa a se aproximar do salão em silêncio, observando a moça. A tristeza é contagiante, e, ainda assim, impossível de ser decifrada.
A música acaba. Ela para o disco e vai para o piano sem pedir licença, de costas para o bar. Outros fregueses, todos homens, começam a chegar, atraídos pelo vestido. Ela se senta ao piano e começa a introdução conhecida por poucos no bar. Alguns minutos, e ela começa a cantar, com a voz triste, cansada, sobre alguém que está comprando uma escadaria para o paraíso.
Ainda que desconhecida pela maioria, e ainda que todos tenham vindo pela moça, a clientela começa a se aproximar do salão em silêncio, observando a moça. A tristeza é contagiante, e, ainda assim, impossível de ser decifrada.
“Makes me wonder”
Um homem, com pelos no rosto suficientes para o corpo de um rapaz, se senta a uma mesa, a mais próxima do salão, e fica a olhar a mulher. É notório que ele não entende a música, mas não deixa de soltar uma lágrima, que, escondida, desaparece pela barba. Aonde até os mais fortes choram
Ela desenha um solo no piano, as mãos finas. A esta altura, é possível até para o barman sentir a música. A partir de então, nenhuma palavra é dita por todo o bar. Nenhum barulho é feito, exceto pelo frenético do piano. É impossível ouvir uma respiração ou um suspirar.
Ela desenha um solo no piano, as mãos finas. A esta altura, é possível até para o barman sentir a música. A partir de então, nenhuma palavra é dita por todo o bar. Nenhum barulho é feito, exceto pelo frenético do piano. É impossível ouvir uma respiração ou um suspirar.
“And she’s a buying a starway to heaven”
A música termina. Ela se levanta e encara um bar com cerca de dez homens. Todos com idade para, no mínimo, serem seus amantes. Todos são tocados pela música como meninos, crianças em uma igreja. Uns dois ou três enxugam as lágrimas, desajeitados. Ela também tem o rosto molhado, mas não o seca. Atravessa o bar confiante, apesar de devagar, sem pedir licença. Deixa o bar pela única porta da frente. Deixa o bar, e nenhuma palavra é dita pela eternidade do tempo.
Muito tempo se passou para alguém ouvir algo por ali novamente. Até que se começa a cantar como ela pela vitrola.
Muito tempo se passou para alguém ouvir algo por ali novamente. Até que se começa a cantar como ela pela vitrola.
sábado, 10 de janeiro de 2009
O Sexo II
Deviam pedir autorização aos pais para transar. Não quero dizer os filhos pediram aos pais para transarem. Os filhos dos outros deviam pedir autorização para nós para transarem com nossos filhos. Não é algo que qualquer um pode vir e levar. Tem que ser minuciosamente escolhido, a dedo. Eu realmente lamento que não posso escolher os namorados, e tem vezes que dá vontade de mandar eles devolverem ou trocarem na loja, porque aparece cada mequetrefe...
Teve uma vez que meu filho trouxe uma menina, que era três vezes maior que ele, com um moicano vermelho, igualzinha a uma bola de futebol americano em pé. Árvores seculares eram mais fáceis de abraçar do que ela. Não preciso dizer que um braço do meu filho não chegava a outra extremidade. Mas, a pedidos, resolvi dar uma chance para a menina e a convidei para um almoço de domingo. Algo bem chato para ver se ela desistia logo, com frango de padaria e salada de agrião. Pois bem, e a menina me arrota no meio da mesa. Não dava! Depois disso, o clima ficou pesado e logo terminou, e ela saiu da minha casa feliz da vida, como se não tivesse feito nada. E nem elogiou a minha comida!
Quando a minha filha já estava meio rodada, lá pelo quarto namorado dela, ela apareceu com umas conversas tortas, do tipo "virgindade não leva a nada", e eu percebi logo a dela. Mas eu estava tranquila, pois ela não tinha namorado realmente, de verdade. Na minha mente retrógrada de mãe velha, achei que tinha que ter um namorado para isto. Foi eu olhar para o lado e a garota tinha arranjado um namorado, e já tinha feito a porra do sexo. Palavras à mãe: nenhuma. Opa, teve sim. Um mês depois ela me disse: "mãe, transei" e foi tomar banho, me deixando sozinha, com a minha cabeça a mil. Lógico, eu fiz questão de conhecer o sujeito, mas ela logo me proibiu de fazer um almoço de domingo.
Eu estava sentada, então, um dia na sala, e ela chega e diz: "Mãe, esse é o André, meu namorado" e vai trocar de roupa, me deixando sozinha com o menino. Não, ele não era mais um menino, ele era um homem. No auge dos seus dezenove anos, era grande e forte, até demais. Confesso que uns vinte anos a mais (ou a menos) e eu é que tinha dado para ele, mas essa não era a questão. O que estava acontecendo é que ele estava transando com a minha filha. E, lógico, sem a minha permissão. Na verdade, pouco importava para eles a minha permissão. Eles iam continuar transando com ou sem ela. O máximo que eu podia fazer era me certificar que ele era gente boa, antes de começar a colocar as minhocas na cabeça dela.
Meia hora de conversa depois, eles saíram. Claro que eu não pude deixar de pensar que ele estava indo levar a minha filha para um motel. Graças a Deus ela era menor de idade, e eles não iam conseguir nada em lugar nenhum. Ele era um rapaz simpático, educado e um pouco tímido. Eu descobri que estudei na mesma escola que o pai. Me fiz de desentendida, mas eu sabia quem o pai dele era. Todas as meninas da minha turma, menos eu, queriam namorar com ele. No final, uma idiota lá conseguiu e frustrou todas nós. Opa, menos eu.
Quando eles saíram, eu ainda fiquei olhando a porta, esperando ele voltar e pedir minha autorização, mas eles não voltaram. O desapontamento era imenso. Com lágrimas nos olhos, eu voltei para a minha novela. Realmente, filhos são para o mundo.
Teve uma vez que meu filho trouxe uma menina, que era três vezes maior que ele, com um moicano vermelho, igualzinha a uma bola de futebol americano em pé. Árvores seculares eram mais fáceis de abraçar do que ela. Não preciso dizer que um braço do meu filho não chegava a outra extremidade. Mas, a pedidos, resolvi dar uma chance para a menina e a convidei para um almoço de domingo. Algo bem chato para ver se ela desistia logo, com frango de padaria e salada de agrião. Pois bem, e a menina me arrota no meio da mesa. Não dava! Depois disso, o clima ficou pesado e logo terminou, e ela saiu da minha casa feliz da vida, como se não tivesse feito nada. E nem elogiou a minha comida!
Quando a minha filha já estava meio rodada, lá pelo quarto namorado dela, ela apareceu com umas conversas tortas, do tipo "virgindade não leva a nada", e eu percebi logo a dela. Mas eu estava tranquila, pois ela não tinha namorado realmente, de verdade. Na minha mente retrógrada de mãe velha, achei que tinha que ter um namorado para isto. Foi eu olhar para o lado e a garota tinha arranjado um namorado, e já tinha feito a porra do sexo. Palavras à mãe: nenhuma. Opa, teve sim. Um mês depois ela me disse: "mãe, transei" e foi tomar banho, me deixando sozinha, com a minha cabeça a mil. Lógico, eu fiz questão de conhecer o sujeito, mas ela logo me proibiu de fazer um almoço de domingo.
Eu estava sentada, então, um dia na sala, e ela chega e diz: "Mãe, esse é o André, meu namorado" e vai trocar de roupa, me deixando sozinha com o menino. Não, ele não era mais um menino, ele era um homem. No auge dos seus dezenove anos, era grande e forte, até demais. Confesso que uns vinte anos a mais (ou a menos) e eu é que tinha dado para ele, mas essa não era a questão. O que estava acontecendo é que ele estava transando com a minha filha. E, lógico, sem a minha permissão. Na verdade, pouco importava para eles a minha permissão. Eles iam continuar transando com ou sem ela. O máximo que eu podia fazer era me certificar que ele era gente boa, antes de começar a colocar as minhocas na cabeça dela.
Meia hora de conversa depois, eles saíram. Claro que eu não pude deixar de pensar que ele estava indo levar a minha filha para um motel. Graças a Deus ela era menor de idade, e eles não iam conseguir nada em lugar nenhum. Ele era um rapaz simpático, educado e um pouco tímido. Eu descobri que estudei na mesma escola que o pai. Me fiz de desentendida, mas eu sabia quem o pai dele era. Todas as meninas da minha turma, menos eu, queriam namorar com ele. No final, uma idiota lá conseguiu e frustrou todas nós. Opa, menos eu.
Quando eles saíram, eu ainda fiquei olhando a porta, esperando ele voltar e pedir minha autorização, mas eles não voltaram. O desapontamento era imenso. Com lágrimas nos olhos, eu voltei para a minha novela. Realmente, filhos são para o mundo.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Minha Amiga de Infância
Desta vez, escrevo para alguém. Assim mesmo, direto e declarado. Em um momento autoritário, meu espaço, e eu posso, sim, usá-lo para fins melosos e emocionais. (;
De anos, desde os meus... hum... oito anos, somos amigas. A conheci quando eu tinha cinco anos e meio. Eu sei, eu era um bebê. E ela também, que tinha seis. A viada sempre se gabou dos seus seis meses a mais do que eu. E eu sempre me defendi por meus dois metros a mais (cof cof).
Eu sempre via, e ainda vejo, amigos de infância que cresceram juntos, lado a lado, passando por tudo de ruim com o outro. Bem, nesta "cigana life style" que meus pais adotaram eu nunca tive ninguém que eu dissesse "este nasceu comigo", exceto, lógico, as minhas irmãs.
Esta já é a minha quarta cidade em quinze anos, e os meus dias aqui estão contados (malas prontas assim que passar no vestibular, seja lá para onde). Todas estas cidades eram pequenas, e sempre foi muito comum eu ver amigos meus falarem de outros amigos como sendo amigos há milhares de anos. E isto nunca foi para mim. Hoje, na cidade onde eu moro, minhas amizades mais antigas tem quatro anos. Não é uma reclamação, só estou analisando o ponto.
Pois bem, em virtude disto, nunca houve, exceto novamente as Lyrio, alguém que fechasse comigo. Eu quero dizer, alguém que tivesse a mesma linha de raciocínio que a minha, construída da mesma forma. Que desse valor a um mapa, a um livro do Harry e a um solo de guitarra do Legião exatamente da mesma forma. Alguém com quem eu discutisse por horas, ou anos.
Pois bem, eu estava completamente errada.
Na minha infância eu tive vários (diferente de muitos) amigos. Mas imagine-se criança, mudando constantemente em um mundo em que a internet ainda é um animal distante (não que isto sirva de desculpa ou algo assim). Eu perdi amizade com todos. Amizades estas que hoje eu tento ainda todo dia reconquistar.
Eu perdi amizade com todos, menos um. Ou melhor, uma.
Nós nos distanciamos, sim. Muito mais do que eu esperava. Mas daqueles tempo cenecistas, ela é a única que me enche o peito (e os olhos) quando eu digo "ela é minha amiga". E daqueles tempos, e de outros, a amizade dela é a que eu mais quero e tento reconquistar, pois, de todas aquelas, é a mais importante para mim.
Ela me deixava puta com as nossas discussões, e quantas inúmeras vezes nós brigamos. Alguns motivos sérios, outros mais bobos. Nós bolávamos planos mirabolantes e até chegamos a formar um grupo (ou banda, conjunto, sei lá), que tinha até músicas! E ainda me lembro da nossa despedida, como chorávamos como duas desesperadas.
Eu também tenho uma amiga de infância, melhor que muito amigo mais antigo e mais unido por aí. Ainda que estejamos a quilômetros de distância, na essência, somos iguais. Os mesmos valores, as mesmas idéias, construídos do mesmo jeito. Ainda que única, é a melhor de todos.
No meu quadro de avisos, onde só estão os especiais, está a nossa foto. Vestidas de anjinhas, de branco, para a apresentação da igreja que ficava perto das nossas casas. Ela rindo para a câmera feliz da vida mostrando o novo par de dentes. Eu, com o olho três vezes maior, louca para ir embora por ter sido a única idiota que não levou outra roupa e teve que ficar de anjinho até o final. Tempos, nossos tempos.
Amiga, sinto a tua falta. E espero, assim como aconteceu com as nossas irmãs (sempre com elas primeiro), ser tua "vizinha" de novo. Seremos grandes, amiga, exatamente como éramos grandes naqueles tempo. Eu te amo, amiga de infância.
E ainda nos vejo velhinhas naqueles balanços, exatamente como você escreveu para mim uma vez.
Só Sei Ser Extremista
Beija-me a pele, arde-te em chamas. Invoca os deuses no além-mar. Brinca a noite, uma criança. É festa, brilha Iemanjá. A pele negra tem mais luz que a Lua. Os olhos vorazes que tem sede. Do meu corpo, da beleza que emana. Sede de calor e de desejo que as noites de janeiro já não fazem voltar. Teu beijo me abraça, abençoa, peca e consome. Sob os raios do Deus-Pai, além da vista somos amantes. Entrego-te crua minha carne. A noite quente segue, como em um dia de festa. Além da pele, faz-se noite o dia. Faz-se luz a Lua. Nossa cúmplice, num insano ato de amor.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Impulso
Impulso. Atira-se; impulso. Morre-se; impulso. Em uma versão de mentiras, histórias. Cantadas, formadas, não há hora. A dança não canta, movimenta-se. O suave veneno do vestido da menina. Agora em uma bandeja de prata, e o impensável, fica-se para trás, já é uma realidade. Fica-se sozinho, condena-se. Mas, diga, quem não faria igual? Egoísmo, a chave. Direciona para frente como em um vôo, sem ver o chão à frente, sentindo o ar, falta ar. E já não se existe mais. Ache quem não faria igual e então condene. Impulso te joga, te lança, te morde, te mata. Impulso não vale, não conta. É fora. Põe-se fora o impulso, e então nunca mais se volta.
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